quarta-feira, 5 de setembro de 2012


( Um eterno indeciso, que deseja mais que tudo saber de onde vim, para tentar quem sabe descobrir para onde estou indo. )

 

( para Djiovan Carvalho )

 

 

Não me importa para onde estou indo,

o que importa é o caminho que escolhi,

pois o mistério é não saber aonde chegarei,

mas amar a viagem que vivenciei!

 

S.C. do Sul 05/09/2012  17:41 h

Ricardo Rossi









Amar

 

( Carlos Drummond de Andrade )

 

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados amar?

.

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

.

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave

de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

FRAGMENTOS  ( RICARDO ROSSI )

 

l

trago-lhe solene aos teus olhos... minha palavra escrita,
com ternura que te comove,
com dor que te corroe por dentro,

e com o tempo que já te esquece.

 

ll

Minha palavra já não tem direção,
nem ao menos dimensão do que nela carrega.

Meu escrever sem sentido planejado... apenas escreve.

Escrevo ao que em minha boca proíbo,
e por isso sou covarde!

E por coragem de escrever o que não digo, sou meu herói por um instante!

 

lll

Ter medo é ter a coragem de conhecer ao medo e conviver com o próprio medo,
dormir com ele a cada noite, acordar com ele e beijar-lhe a face.

Tenho medo de mim no amanhã, e da grande escuridão que é o amanhã,
antes me vi herói... hoje sou covarde!

Escondo-me de minha sombra e dos pensamentos lógicos,
componho meus pensamentos na harmonia da loucura desencontrada,

me enterro com as cinzas do cinzeiro e me acendo em viva brasa.
E sei já não ser mais um inteiro,

contento-me com os fragmentos que restaram.

 

S.C. do Sul  05/09/2012  16:15 h

Ricardo Rossi