quarta-feira, 5 de setembro de 2012


( Um eterno indeciso, que deseja mais que tudo saber de onde vim, para tentar quem sabe descobrir para onde estou indo. )

 

( para Djiovan Carvalho )

 

 

Não me importa para onde estou indo,

o que importa é o caminho que escolhi,

pois o mistério é não saber aonde chegarei,

mas amar a viagem que vivenciei!

 

S.C. do Sul 05/09/2012  17:41 h

Ricardo Rossi









Amar

 

( Carlos Drummond de Andrade )

 

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados amar?

.

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

.

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave

de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

FRAGMENTOS  ( RICARDO ROSSI )

 

l

trago-lhe solene aos teus olhos... minha palavra escrita,
com ternura que te comove,
com dor que te corroe por dentro,

e com o tempo que já te esquece.

 

ll

Minha palavra já não tem direção,
nem ao menos dimensão do que nela carrega.

Meu escrever sem sentido planejado... apenas escreve.

Escrevo ao que em minha boca proíbo,
e por isso sou covarde!

E por coragem de escrever o que não digo, sou meu herói por um instante!

 

lll

Ter medo é ter a coragem de conhecer ao medo e conviver com o próprio medo,
dormir com ele a cada noite, acordar com ele e beijar-lhe a face.

Tenho medo de mim no amanhã, e da grande escuridão que é o amanhã,
antes me vi herói... hoje sou covarde!

Escondo-me de minha sombra e dos pensamentos lógicos,
componho meus pensamentos na harmonia da loucura desencontrada,

me enterro com as cinzas do cinzeiro e me acendo em viva brasa.
E sei já não ser mais um inteiro,

contento-me com os fragmentos que restaram.

 

S.C. do Sul  05/09/2012  16:15 h

Ricardo Rossi

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Deus sussurra  ( Ricardo Rossi )



Existir é estar vivo e consciente,
ser presente diante do tudo que existe,

existir não é nada alem do instante

da duvida de estar presente diante de tudo.

Cercamos de consciência a tudo que cremos,
cremos em tudo para termos sentido de existir,

mas nada importa, ser presente diante de tudo

não faz verdade na existência.

Sou o meu nome, mas meu nome não me faz em eu.
Sou eu o ser que habita alem da minha imagem,

e é a consciência do presente e de tudo que me cerca,

e Deus sussurra fazendo-me cócegas aos ouvidos.



S.C. do Sul  16/08/2012   18:44h



Ricardo Rossi

terça-feira, 17 de julho de 2012


NÃO DÓI NADA   ( RICARDO ROSSI )



Quando me permite o silencio,
sou um eu em meu próprio pensar.

Mas se profiro palavras,

sou outro eu que desconheço,
o silencio me faz verdadeiro.

As palavras retratam um eu imaginário,
ser realidade requer conhecimento...

intimo, dolorido e triste.

Ser a aparência das mentiras que nos veste,
não dói nada.



S.C. do Sul   17/07/2012   10:52h

Ricardo Rossi

domingo, 1 de julho de 2012


Queria ver aos campos ( RICARDO ROSSI )





Queria ver aos campos, meu olhar de verde se perder,
mas concreto de cinzas em meus olhos tenho a ferver,

Vejo agora com meu ser sem vontade de entender,

o cinza, que de verde se colore em meu pensar.


Quero o verde no agora, e o cinza quando não precisar.

quero ver aos campos sem neles me enxergar,

não sou parte  da natureza, a qual deseja meu olhar.

sou o sentir do cinza que de verde me deixo enganar.



S.C. do Sul    01/07/2012  10:33h



Ricardo Rossi

DOCE É O ENGANO  ( RICARDO ROSSI )





DOCE É O ENGANO DE QUEM PENSA QUE NÃO SE ENGANA.
FINGIDOS SOMOS DE NOSSA FELICIDADE EM FRAGMENTOS INSTANTÂNEOS,

NÃO SOMOS O QUE QUEREMOS, NEM SOMOS O QUE PENSAMOS,
SOMOS O REFLEXO DE NÓS MESMOS, QUANDO PENSAMOS EM NADA.
VIVER É CAMINHAR PELO TEMPO A SE COMPLETAR EM PENSAMENTOS,

E A VIDA VAI ADIANTE DE QUE PENSAMOS SEM PENSAR A FRENTE,

CRIAM-SE OS CASTELOS DE VENTOS, E OS VENTOS OS DESFAZEM,

É NATURAL  E NÃO DOI EM NADA CRIAR PENSAMENTOS...

TORMENTOS E OUTROS ENGANOS,

CAMINHAR PELO TEMPO É O SENTIDO MAIS VIVO QUE VIVEMOS,

E QUANDO QUEREMOS O AMIGO MAIS VERDADEIRO, BUSCAMOS NOSSA SOMBRA.

SEREMOS DESAMPARADOS SE NÃO SENTIRMOS NOSSO INSTANTE PRESENTE,

E O TEMPO QUE FAZ CADA INSTANTE ÚNICO E PRESENTE,

TAMBEM NOS RETIRA O TEMPO DE VIVERMOS,

SUBTRAIDO DA LINHA VIVA DE TEMPO... CADA SENTIDO TORNA-SE MEMÓRIA,

E NO PASSADO FICA SEM AFETAR NO AGORA O QUE EM EU, EU QUERIA.

COMPLETO-ME COM O NADA, POR SER TUDO O QUE TENHO.

DOCE É O ENGANO, DE QUEM SE ENGANA COM A VIDA COMO SE ETERNA FOSSE!




S.C. do SUL    01/07/2012             09:48h



RICARDO ROSSI

domingo, 3 de junho de 2012


O amor que tem razão   ( RICARDO ROSSI )





Amaremos o que amamos até ao instante em que o amor não mais importe.
E em verdade o amor não importa,

viver a amar é se amar pouco,
cada coisa tem o amor que merece ao seu tempo.

O tempo de amar e de ser amado é breve,
restam as memórias do tempo que amamos ao que amamos,

e quando o amor se vai, dá-se lugar a um amor que vem.
Ao seu tempo o amor nos chega, como uma data esperada,

marcada a roda de vermelho em um calendário na parede pendurado.

Ao seu tempo vem o dia e a noite,
ao seu tempo vem as flores e ao seu tempo as flores partem.

A mãe gera no ventre o filho que ao seu tempo vem,
preparando o tempo de amar o que o ventre escondeu.

Amar é se apegar ao que não nos pertence,

sofrer é se apegar ao amor que não mais nos quer.



O amor que tem razão, é o amor que ama sem razão.



S.C. do Sul   03/06/2012  19:20h



Ricardo Rossi

quinta-feira, 31 de maio de 2012


Ser contente é um jeito de ser  ( RICARDO ROSSI )



Quando a noite chega, não sou mais triste do que fui ao dia,
nem mais contente do que fui ao amanhecer , sou o que sou,
sem dar-me conta de mim, amanheço eu,  sendo eu ao meio dia,

e sou eu quem sonha os meus sonhos.
No entanto desconheço o meu sentir,

os sentidos estão pregados em mim, e dão asas aos pensamentos,

pensar é fugir do eu e se refugiar a um outro eu mais perfeito,
prefiro ao que penso de mim, ao eu que conheço.

O mundo a roda de mim me faz, mesmo quando contra minha vontade,

meus pensamentos fazem o mundo a minha roda, e sou mais contente.

Ser feliz é um instante... ser contente é um jeito de ser,
se é contente mesmo quando se é triste,

o ser é intimo, não se revela do lado de fora.
Olhar ao relógio e seguir ponteiros é perder-se do tempo,

o tempo vale ao sentido do tempo, não ao rodar ponteiros.
Vem o dia e breve vem a noite e os sonhos que sonhamos e perdemos pela manhã.

Ser feliz é guardar pelas manhãs os sonhos e a noite dormir abraçado com eles.
ser contente é um jeito de ser!



S.C. do Sul   31/05/2012    18:29h



Ricardo Rossi

sexta-feira, 25 de maio de 2012


Na garrafa   ( RICARDO ROSSI )



Queria escrever como quem confessa um pecado,
sem padre que me ouça, nem penitencias de rezas que não sei,
apenas desamarrando do meu ser o que de peso levo sem sentir,

pois pecados são naturais como as arvores que brotam do chão,
pecar a todos cabem, faço a minha cota sem dar-me conta,

queria escrever como quem peca sem ter medo do juízo que um dia se fará,

ai de mim que um dia verei a face dura do juiz,
e dita as palavras da sentença... que esperança resta?


Queria pecar como quem escreve sem esperança,
uma carta na garrafa que vaga no mar,

sem destino ou descanso... ao sabor de sal das ondas,

deixo nas palavras uma cota de pecados,

uma  carta que vagueia em um mar de pecados,

queria escrever apenas escrever e mais nada,
palavras sem sentido...

sentidos emudecidos...
que vagueiam na garrafa.



S.C. do Sul     25/05/2012   19:51h



Ricardo Rossi

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Que pena tenho dos meus olhos ( RICARDO ROSSI )





Eu confesso que olho muito para as coisas,
mas confesso com certa tristeza que pouco enxergo das coisas.
Olhar a tudo não nos faz melhor,
enxergar o que vemos nos muda,
quando enxergamos ao que vemos fazemos parte do que é visto,
tocar ao que enxergamos, nos liga fisicamente ao ser,
e somos por um instante um único ser.
E no entanto eu apenas olho as coisas,
e fico pobre das coisas por não toca-las,
me basto com o olhar do instante e logo me esqueço,
e tudo ao que vi nada se prendeu ao meu sentir.

Ando pelas ruas das cidades,
vejo asfalto postes iluminados automóveis apressados
gente que passa gente que caminha ao meu lado
arvores no caminho, gente no caminho,
caminhos sem destino,
destinos desencontrados.

E eu no centro de tudo não enxergando nada.
Que pena tenho dos meus olhos!


S.C. do Sul    23/05/2012     18:29h


Ricardo Rossi



domingo, 20 de maio de 2012


Eu me lembro que te amo ( RICARDO ROSSI)



Estou sem argumento comigo mesmo,
mas não me questionei em nada...
estou internamente mudo.

Vejo o tempo... ele passa e não me importo.

não me importo, quero crer que não me importo...



Um dia eu disse... te amo,
eu poderia dizer muitas vezes... te amo!
e meu amar seria vulgar... por tanto dizer... te amo!

então as vezes digo baixinho,

só para meu coração lembrar... te amo.

Meu amar é vulgar nas esquinas... mas te amo.

Meu amor é à toa, mesmo assim... te amo.

Te amo de madrugada em silêncio,

em sonhos e pensamentos,

nas viagens pelas estradas.

E quando estou quieto, tão quieto...  

eu me lembro que... te amo.



S.C. do sul    20/05/2012    14:54h



Ricardo Rossi

Viagem  ( RICARDO ROSSI)



A vida é uma viagem

onde temos a passagem

só de ida... não ha volta.
Por isto precisamos ter calma,
ver o desenrolar da vida
como em um filme onde somos o personagem de nós mesmos,

interpretar  a si próprio é o segredo,

não importa o enredo,
temos que viver a nossa história.



S.C.Do Sul   20/05/ 2012                 11:13h



Ricardo Rossi

quinta-feira, 17 de maio de 2012


O brilho dos olhos ( RICARDO ROSSI )



Esqueci o teu nome,
não sei como te chamas...
não sei te chamar agora,
esqueci o teu nome.
Esqueci o meu nome,
não sei como me chamo...
nem sei chamar-me agora.
Só sei que a felicidade

não é o sorrir dos lábios,

mas o brilho dos olhos.



S. C. do Sul       17/05/2012 19:09h



Ricardo Rossi

sábado, 12 de maio de 2012


no entanto o que sei da vida?  ( RICARDO ROSSI)


no entanto o que sei da vida?
vivo o que em cada dia me vem de encontro...
não contesto o que recebo ,
de bom ou mau grado... recebo o que me vem.
o dia passa sobre meu ser e aguardo no sonho ser o que quero,

mas o sonho não me basta ou contenta,

ele se basta como sonho em sua própria vontade.

acordo e continuo em sonho a receber o que me dá a vida,
minha aflição se retém em meu olhar,

mas meu olhar não se espanta, vê apenas.

se a cada dia eu bebesse da fonte da sabedoria, seria um sábio.
o que sei agora me basta,

estou repleto de saberes e sei que de nada vale.

ter consciência do inútil é de grande utilidade,
e no entanto o que sei da vida?



S.C. do Sul    12/05/2012    11:17h



Ricardo Rossi

sábado, 5 de maio de 2012


Olhando devagar ( RICARDO ROSSI )



olhando devagar a profundidade do abismo... me vejo,
não sinto pena, nem outros sentimentos me afetam neste instante.
vejo o vulto que sei ser meu dentro do abismo, sei que ele se move.
ligo-me a ele através de um pensamento, eu o sinto... ele me sente,
estamos ligados ao sentido comum que nos mantém vivos.
dou a ele três goles  de café e algumas baforadas de tabaco em brasa.
ele se mantém e me mantém desperto,  mas como em um sonho acordado.
a paisagem que nos rodeia é a mesma que sempre foi, mas envolta de novos sentimentos.
ele desconhece o que sente... e eu sinto o que ele desconhece.
nos completamos e somos o mesmo, embora ele no abismo, e eu que o contemplo.
seus gestos de agora me levam a outros pensamento,
e me esqueço do ser que no abismo vive... ele se cala abandonado de mim,
mas aguarda pois o retorno sempre existe.
não toco-lhe as mãos... nunca lhe toquei  as mãos, apenas nosso olhar enxerga,
nos vemos qual o olhar de dois cegos.
nossos passos são os mesmos dentro dos mesmos sapatos.
e somos os dois em um só ser que habitamos,
um no abismo e o outro que contempla.



S.C. do Sul   05 de maio de 2012  09:34h



Ricardo rossi

sábado, 21 de abril de 2012

veja... pois vale ser visto!




Quem serei não me importa ( RICARDO ROSSI )



Me decomponho em pedaços de mim
para me fazer de novo no agora,
e no agora me desconheço,
minha imagem do espelho me reflete no ontem...

Não sou o presente, nem do passado me faço,
do futuro espero só o que ele me de sem exaspero... com calma.

Todas as lembranças do ontem se afastam na medida do tempo,
fragmentan-se em pó de memória até serem nada.

Não sou a soma do que em mim foi vivido,

sou a espera do que em mim aguarda.
Explicar-se é algo que beira entre a loucura e a vaidade,

então não se explica, apenas se é no que o ser se mostra.
Quem fui não me lembro,

quem sou não conheço,

quem serei não me importa!



S.C. do Sul   21/04/2012   09:26h



Ricardo Rossi

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sossega, coração! Não desesperes! ( FERNANDO PESSOA )



Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa, 2-8-1933.

TENHO  APENAS PALAVRAS  ( RICARDO ROSSI )



Eu bem sei que escrevo para você,
e aguardo a expressão do seu sentir
ao que minhas palavras te buscou.
Não me importa se outros corações alcançou.


Ouço tua voz no silencio da tua palavra escrita,
e bebo de cada palavra dita
a essência do sentido que tu sentia.
Me sinto em êxtase na resposta aguardada.


Tua existência completa o eu,
eu completo o que tu calas a vida.
Minha vida é repartir o que tenho
e tenho apenas palavras.



Então vestindo das palavras que são os tesouros de um rei sem reino,
me completo em ti minha doce amiga!



S.C.do Sul   16/04/2012  09:16h



Ricardo Rossi

domingo, 15 de abril de 2012


APENAS ESCREVER  ( RICARDO ROSSI )



escrever é tão natural como respirar
eu não penso quando respiro
eu não penso quando escrevo

mas as vezes tenho a cara n`agua.

quando eu era menino tinha uma bicicleta e um mundo a minha frente

um dia a bicicleta foi embora ... o mundo ficou a minha frente.

tenho vontade de acender  meia vela a nossa senhora da boa morte,

a outra metade a nossa senhora da boa sorte.

pensar em escrever é como ter a cara na água

é difícil por no papel o que se tem na cabeça,

o que se tem no coração vai ao papel como o brilho de um relâmpago.

sem ideias arquitetadas, apenas palavras que brotam como sementes

e germinam e florescem e frutificam e fazem todo o sentido da vida nelas.



S.C. do Sul   15/04/2012  17:13h



Ricardo Rossi

Sem guardar saudades ( Ricardo Rossi )



Os anos, quando passam pelas janelas do nosso olhar
nos trazem mais saudades e menos alegrias,

sinto saudades de um tempo em que eu era a alegria no olhar!

Eu desconhecia o tempo e seus valores, a vida passava doce... mesmo em suas tristezas.
meu coração era mais puro e ingênuo, meus olhos brilhavam diante da vida.

Hoje meu olhar vê as lembranças que o tempo amarrou no passado,
e a cada dia ficam mais distantes de mim...

um dia esquecerei as doces lembranças... o tempo as escondera.
Minha memória será retida no instante presente,

esquecerei as saudades e a ingenuidade pura que um tempo morou em meu coração.
Serei então apenas um homem que caminha por este mundo,

o mundo será um lugar sem mistério e a vida o passar do tempo.
Não conto o tempo, apenas o vejo passar diante de mim,

ele se repete no giro do relógio, nas estações do ano, nas folhas do calendário.
Apenas se repete, sem mistérios...  sem guardar saudades.



S.C. do Sul  15/04/2012  8:08 h



Ricardo Rossi

sábado, 14 de abril de 2012


PERDÃO ( RICARDO ROSSI )

No momento  em que tenha que pedir perdão a vida que tive,
pedirei perdão ao por do sol que esqueci,
a flor que me passou despercebida,
ao amigo que não conheci,

as palavras que calei quando a voz se fazia necessária,
as omissões que pratiquei de mim comigo mesmo,
as que pratiquei aos meus semelhantes,
as que tive diante da natureza.

Sou humano e me escondo na fraqueza humana,
mas não há perdão ao que se esconde na fraqueza.
Pedirei perdão ao momento que baixei minha visão
quando existia um horizonte à minha frente.

Pedirei perdão as minhas mãos...
quando eu as retive e poderia estende-las,
ao tempo que derramei inútil e o poderia
ter-lhe  dedicado a vida.

No momento  em que tenha que pedir perdão a vida que tive,
estenderei minhas mãos, erguerei meus olhos
para um horizonte que não conheço,
serei então infinitamente livre de todos os pecados que carreguei.



S.C. do Sul  14/04/2012 10:10h

Ricardo Rossi




terça-feira, 10 de abril de 2012


Coisas do Mundo, Minha Nêga ( Paulinho da viola )


Hoje eu vim, minha nega como veio quando posso

Na boca as mesmas palavras, no peito o mesmo remorso

Nas mãos a mesma viola onde gravei o teu nome

Venho do samba há tempo, nega, vim parando por aí

Primeiro achei Zé Fuleiro que me falou de doença

Que a sorte nunca lhe chega, está sem amor e sem dinheiro

Perguntou se eu não dispunha de algum que pudesse dar

Puxei então da viola, cantei um samba pra ele

Foi um samba sincopado que zombou do seu azar

Hoje eu vim, minha nega, andar contigo no espaço

Tentar fazer em seus braços um samba puro de amor

Sem melodia ou palavra pra não perder o valor

Depois encontrei seu Bento, nega, que bebeu a noite inteira

Estirou-se na calçada sem ter vontade qualquer

Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher

Não chegar de madrugada, e não beber mais cachaça

Ela fez até promessa, pagou e se arrependeu

Cantei um samba pra ele, que sorriu e adormeceu

Hoje eu vim, minha nega, querendo aquele sorriso

Que tu entregas pro céu quando te aperto em meus braço

Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço

Por fim eu achei um corpo, nega, iluminado ao redo
Disseram que foi bobagem, um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
Foi apenas um pandeiro que depois ficou no chão

Não tirei minha viola, parei, olhei e vim-me embora
Ninguém compreenderia um samba naquela hora
Hoje eu vim, minha nega, sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012


Que outros falem o que calei  ( RICARDO ROSSI )



Que outros falem o que calei...
Já não me importa horizontes,
levo comigo este corpo com que nasci,
dou lhe cuidados ( AS VEZES ),
e tudo diante de mim é o cenário do teatro da minha existência,
existir as vezes me cansa ... porque carrego comigo este  corpo e ele me pesa na alma.
ser eu  é adivinhar meus pensamentos, desconheço meus pensamentos,
minha opinião muda a cada instante... não tenho opinião sobre nada.
Existir  é uma arte que não domino, estou presente pela circunstância dos encontros,
as conjunções físicas de muitos encontros  me fizeram presente,
não me coube a escolha!
Assim seguirei,  sem ter controle nem mapa ou bússola do meu destino.
E o horizonte diante dos meus olhos? O que me importa o horizonte!
O herói é herói e o covarde é covarde apenas pelo acaso,
o momento propicia o heroísmo ou a covardia em uma mesma proporção.
O ímpeto nos impele a fazer o que fazemos... não pensamos, apenas agimos pela circunstância,
quando pensamos nos prendemos ao discurso ( pessoal ou publico ) nos perdemos no discurso.
as palavras nos levam a gloria ou a desgraça,

que outros falem o que calei !



S. C. do Sul  20/02/2012      10:50h



Ricardo Rossi

sábado, 18 de fevereiro de 2012


VELHOS AMIGOS  ( RICARDO ROSSI )

As pessoas não amam a Deus, elas temem a Deus...
É isto um grande drama ! Amar é terno quente e intimo.
Deus não se apresentou a mim, ele é o desconhecido e imaginário
a quem devo temer para ter lugar no paraíso eterno.
Mas é patético o eterno e sem razão, o paraíso é chato feito de coisas perfeitas,
o imperfeito lá não existe, e tudo é perfeitamente triste e sem razão.
A eternidade é o castigo a quem teme a Deus.
Prefiro amar a Deus como amo a um velho amigo,
e meu velho amigo é imperfeito, ele fuma as vezes bebe e fica a olhar as bundas das mulheres,
e diz palavrões e diz ternuras e se desconhece porque nele o novo e inesperado acontecem.
Amo o sol quando faz sol e a chuva quando chove e lava a terra e da um cheiro bom as coisas,
amo as noites e as estrelas e as pessoas que caminham pela noite a procura de nada.
Não desejo mal a ninguém, não quero magoar, ofender, ser superior ou altivo.
Sou igual aos meus semelhantes e as pedras.
Desejo que meus semelhantes e as pedras não queiram me magoar.

Às vezes caminho pelas ruas da minha cidade ou de onde eu esteja na esperança de encontrar Deus;  e que ele se aproxime de mim e me diga... Sou Deus e vim te fazer companhia, porque sou Deus e às vezes sou triste de ser Deus e soberano sobre todas as coisas, é chato cuidar de todas as coisas, me escravizo a elas para manter minha divindade, é triste ser divino e totalmente correto e julgar a tudo e dar sentenças...  E eu desconheço o meu inicio e não terei fim, porque a eternidade está comigo e serei eternamente Deus.

E Deus caminha comigo... por um instante mágico ele se torna imperfeito e íntimo e quente e neste instante de magia nos amamos feito velhos amigos.
Não importa o que falemos, ou ficaremos em silêncio a caminhar pelas ruas e ver as pessoas que caminham pelas ruas, e todas as coisas e todos os seres livres da proteção divina e escravizadora, porque Deus agora é humano e está comigo.



S.C. do Sul  18/02/2012    09:58h



Ricardo Rossi

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Silêncio ( RICARDO ROSSI )

Afinal me deixo no silêncio.
O silêncio me diz tudo que preciso ouvir,
são puras as sabedorias que o silêncio me dá,
nada me diz porque não ha nada a dizer.


As pessoas tecem seus discursos,
as pessoas se perdem em seus discursos,
as pessoas não praticam seus discursos,
e seus discursos morrem no abismo que existe entre ele e a atitude.


Eu  exprimo o meu discursos patético,
vejo ele seguir rumo ao abismo,
se lança ao abismo e cai no vazio.
Meu silêncio tem mais verdades!

S.C. do Sul   01/02/2012    14:57h

Ricardo Rossi

domingo, 29 de janeiro de 2012


REFLEXO  ( RICARDO ROSSI )

Às vezes sentencio minha boca ao silêncio,
minha boca nada fala...
Mas meus dedos me escrevem,
minha boca de mim nada sabe,
mas meus dedos...  minha alma reflete!

S.C. do Sul     29/01/2012   11:18h

Ricardo Rossi
Rei do nada ( RICARDO ROSSI )



Sentir as coisas não é entender as coisas
é ver as coisas é saber o gosto e cheiro,
se frio ou quente ou pouco importa se frio ou quente,
se ha luz ou sombras sobre as coisas...

Tenho tantos pensamentos e idéias,

tudo guardo em meus bolsos

mas pouco pratico do que tenho.

E tenho coisas a fazer e não as faço,

deixo-as guardadas em meus bolsos

e sento-me  no trono da vida,

como um rei do nada!

Sentir as coisas não é conhecer as coisas!

Não ter intimidade com as coisas nos torna mais livres,

nada nos pertence e nada nos escraviza ao reino das posses.

Ser senhor das coisas nos leva a servidão da soberania,

é triste ser escravo do poder, estar preso ao poder, viver para ser poderoso.

Mais livre é quem nada tem...
Mais livre é quem nada deseja!


S.C. do Sul 29/01/2012  9:44h


Ricardo Rossi



(Ricardo Reis)
Fernando Pessoa


Quero dos Deuses

 

Quero dos deuses só que me não lembrem. Serei livre — sem dita nem desdita, Como o vento que é a vida Do ar que não é nada. O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos, Cada um com seu modo, nos oprimem. A quem deuses concedem Nada, tem liberdade.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Divino e inútil ( RICARDO ROSSI )

Quando vejo o mundo que me cerca,
penso ser o que no centro do universo existe!
é vão e tolo tal pensar.
O universo de mim não depende.
O tempo não se detém à minha espera,
o outono vem quando outono ha de ser.
Mas sou parte do que no universo existe
e o outono existe em meu olhar.
O tempo marca em mim seu passar,
sou parte de tudo que existe... sou parte de tudo que o sentir sente.
Sou eu quem o universo escolheu para ser o eu que aqui escreve.
Sou o divino e o inútil em uma mesma verdade,
estou presente no agora e estendo minhas mãos,
dedico meu olhar ao que se vê ,
estou aqui... onde o universo à partir de mim existe!

S.C. do Sul 28/01/2012 10:26 h

Ricardo Rossi

sábado, 21 de janeiro de 2012

EXTENSÃO  ( RICARDO ROSSI) ( Titulo dado por Débora)

tenho duas mãos e dedos que se alongam alem delas
tenho duas mãos e dedos que se alongam para receber o que me é dado
mas se alongam também para dar o que tenho
cerrar os dedos por entre as mãos é triste,
nada se tem a receber , nada se tem a dar
as mãos cerradas é a negação a vida.
Tenho dois olhos e um olhar que se estende alem deles,
tudo vejo e muitas vezes nada entendo.
O meu olhar é o rio que corre para o mar,
e desconhece o mar e seus mistérios,
mesmo em seu desconhecer avança para o mar e se funde a ele
e todas as águas se fazem uma só água.
Como tudo no universo é universo em seu intimo sentido,
tudo está no universo e todas as águas dos rios é o próprio mar.
Tenho dois ouvidos que captam os sons que me chegam
e todos os sons refletem o meu silencio.
Não sou as minhas palavras... nem o meu pensamento de agora.
Sou a água que é mar e que nada sabe do mar.
Sou o universo sem saber do universo.
sou os dedos que se alongam das minhas mãos.


S.C. do Sul 21/01/2012 8:44h

Ricardo Rossi