sábado, 5 de maio de 2012


Olhando devagar ( RICARDO ROSSI )



olhando devagar a profundidade do abismo... me vejo,
não sinto pena, nem outros sentimentos me afetam neste instante.
vejo o vulto que sei ser meu dentro do abismo, sei que ele se move.
ligo-me a ele através de um pensamento, eu o sinto... ele me sente,
estamos ligados ao sentido comum que nos mantém vivos.
dou a ele três goles  de café e algumas baforadas de tabaco em brasa.
ele se mantém e me mantém desperto,  mas como em um sonho acordado.
a paisagem que nos rodeia é a mesma que sempre foi, mas envolta de novos sentimentos.
ele desconhece o que sente... e eu sinto o que ele desconhece.
nos completamos e somos o mesmo, embora ele no abismo, e eu que o contemplo.
seus gestos de agora me levam a outros pensamento,
e me esqueço do ser que no abismo vive... ele se cala abandonado de mim,
mas aguarda pois o retorno sempre existe.
não toco-lhe as mãos... nunca lhe toquei  as mãos, apenas nosso olhar enxerga,
nos vemos qual o olhar de dois cegos.
nossos passos são os mesmos dentro dos mesmos sapatos.
e somos os dois em um só ser que habitamos,
um no abismo e o outro que contempla.



S.C. do Sul   05 de maio de 2012  09:34h



Ricardo rossi

Um comentário:

  1. Gostei muito, gostei muito mesmo, porém penso que o desafio consiste em saltar sobre o abismo sem olhar muito para sua profundidade. É saltar com esperança olhando a margem do outro lado mesmo que "a paisagem que nos rodeia é a mesma que sempre foi, mas envolta de novos sentimentos".
    Na outra margem, já transposto o abismo, o desconhecimento dos sentimentos não existe e a visão da alma passa a valer mais que a visão dos olhos.

    "E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti".
    Friedrich Nietzsche

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