terça-feira, 31 de agosto de 2010

Preciso ( Ricardo Rossi )

Eu preciso erguer mais muros,
e por onde a luz passar, outro muro.
Eu preciso tirar minha pele
e vestir a couraça, preciso.
Ter amigos contados nos dedos,
e cortar alguns dedos, preciso.
Preciso ganhar mais dinheiro,
estocar em um banco.
Crer mais no cimento!
Preciso rever conceitos,
e travar sentimentos.
Preciso de menos paixão,
ter mais razão... preciso.
Preciso medir as palavras,
economizar palavras,
e também não falar.
Preciso de coisas estranhas,
trocar as entranhas,
E me enterrar... preciso.
Preciso nascer de novo!


S.Paulo 31/08/2010 19:41h

Ricardo Rossi

Salada ( Ricardo Rossi )

Cometi um deslize, escorreguei nas palavras
fui alem do que devia, e me expus ao sol,
queimei a pele, e feri alguém!
Agora vou cortar os pulsos,
e temperar a salada.


S.Paulo 31/08/2010 19:07h

Ricardo Rossi

Naquele dia ( Ricardo Rossi )

Naquele dia que você diz e não entende,
Sabe e não enxerga, pensa e não crê
e não aceita, protesta, discorda
e busca o que não pode,
e quer o que não tem,
e tem o que despreza
e preza o que não é...
naquele dia em que tudo, deveria não existir,
e o eu deveria estar fora,
e o que de fora, eu ser.
Naquele dia que não devia acontecer,
exatamente, naquele dia...


S.Paulo 31/08/2010 19:00h

Ricardo Rossi

pra que? ( Ricardo Rossi )

ctrl+C , ctrl+v
ctrl+C , ctrl+v
ctrl+C , ctrl+v
copiar, colar
copiar, colar
copiar, colar
criar, pra que?

S.Paulo 31/08/2010 14:08h

Ricardo Rossi

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lado obscuro ( Ricardo Rossi )

Te vejo como a lua,
não no céu branca e cheia.
Te vejo como a lua,
na face obscura.
São segredos teus pensamentos.
inesperadas as atitudes
Improváveis as palavras
Incertas as lembranças
na face oposta vive,
lua cheia no céu se exibe.
Mas tua verdadeira face esta oculta.

S.Paulo 30/08/2010  19:15h

Ricardo Rossi

Esperando ( Ricardo Rossi )

Estou sempre esperando alguma coisa,
estou sempre esperando alguém,
estou sempre na ansiedade do que vem.
E nem a coisa e nem alguém, não vem!

S.Paulo 30/08/2010 18:15h

Ricardo Rossi

FENÔMENO – 26/02/10 ( Débora Vasconcelos )

Há tempos eu lhe cobrava um fenômeno
Não vinham flores, nem vinho
Não vinha chocolate; só o vazio
De um espera sem fim
Passado anos eu decidi
Parei de te cobrar
Te trai

Poesia se sente ( Ricardo Rossi )

Não farei poesia de rima perfeita.
Poesia se sente... se diz o que na alma é presente.
Rimar amores e dores, não faz a poesia contente,
tirar a rima também não a faz melhor.
escrever no papel o que a alma sente,
é ao que a poesia importa.
poesia se semeia, no papel brota,
os olhos comem e a alma alimenta.


S.C.Sul 30/08/2010 09:12h

Ricardo Rossi

domingo, 29 de agosto de 2010

Poema para o namorado ( LEILA MÍCCOLIS )


Teu lado feminino me erotiza:
são belos, sensuais e muito caros
certos instantes gostosos, em que te encaro
menos como homem e mais como menina:
quando passas teus cremes para a pele,
ou pões o avental pra cozinhar,
ou quando em mim te esfregas
até gozar os teus gozos sem fim,
ou quando tuas mãos, leves e lésbicas,
desabam como plumas sobre mim.

Meu Deus, me dê a coragem - Dá-me a tua mão ( Clarice Lispector )



Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.


Clarice Lispector







Dá-me a tua mão



Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.


Clarice Lispector

Tudo se transformou (Paulinho da Viola)



Vai, meu samba
Tudo se transformou
Nem as cordas do meu pinho
podem mais amenizar a dor
A razão dessa tristeza
é saber que o nosso amor passou
A razão dessa tristeza
é saber que o nosso amor passou
Violão até um dia
quando houver mais alegria
eu procuro por você
Cansei de derramar
inultimente em suas cordas,
as desilusões desse meu viver
Ela declarou recentemente
que ao meu lado não tem mais prazer
Ela declarou recentemente
que ao meu lado não tem mais prazer
Violão até um dia
quando houver mais alegria
eu procuro por você
Cansei de derramar
inultimente em suas cordas,
as desilusões desse meu viver
Ela declarou recentemente
que ao meu lado não tem mais prazer
Ela declarou recentemente
que ao meu lado não tem mais prazer

Assum Preto ( Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira )


Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.

LAMENTO ( Ricardo Rossi )

Eu lamento os equívocos e os desencontros,
assim como lamento os encontros que não deviam ter acontecido.
Lamento as palavras que dediquei e que se perderam sem sentido,
olhos que olhei e guardei em mim, e não deviam...
o tempo dedicado e perdido, eu lamento.
Lamento os beijos desencontrados e os sem amor vivido,
e os que se perderam no vazio!
Também os que foram dados em troca da solidão,
eu lamento a solidão que vivi, quando eu deveria estar comigo!
Mas também lamento a solidão quando tive companhia ( que secou minha alma ).
Em cada ano vivido, nele lamento o que deixei perdido.
Lamento os amigos esquecidos e também os desencontrados,
mas Lamento mais ainda os amigos que não conheci.
Esta vida que carrego comigo, desencontrada de mim... lamento!
E o tempo de mim a deriva, sem encontrar o que em mim devia, lamento.
O filho não nascido...lamento, e aos presente lamento meus desencontros.
Aos tesouros que ganhei e aos que perdi e joguei fora... lamento.
E a vida em mim presente a quem não dou apego........ eu lamento!

S.C.Sul 29/08/2010 11:40h

Ricardo Rossi

Infinita beleza ( Ricardo Rossi )

Quero crer na infinita beleza
da pétala de flor esquecida sobre a mesa,
quero sentir a infinita beleza
de um amor antigo, esquecido em um coração.
Olho e vejo tudo perfeito na indizível beleza
da ausência de beleza que em tudo se faz.
Não ouço as notas melodiosa da lembrança na memória.
Meu tempo desfez o brilho que outrora
iluminava meu olhar.
as coisas estão vazias...
as pessoas estão vazias...
e minha alma, flutua sem peso.
já não busco... e não encontro o que não busco!
Meu olhar alcança cinco passos a minha frente,
dois passos a direita , dois passos a esquerda,
não desejo olhar atrás.
Meu tempo se limita ao próximo minuto do relógio,
sou apenas o instante presente no meu tempo de agora.
Busco ainda a infinita beleza...
do que em mim, se veste de tristeza!

S.C.Sul 29/08/2010 09:30h

Ricardo Rossi

sábado, 28 de agosto de 2010

A brusca poesia da mulher amada (III) Vinicius de Moraes



A Nelita


Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrânciajá me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumas
E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos
Empós meu canto. É ela uma menina.
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão. Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras.
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.
Seu corpo, pouco a pouco abre-se em pétalas... Ei-la que vem vindo
Como uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imenso em trevas.
Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos!
Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos!
Alvoroçai-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela
De longe, como o tempo
A minha amada última!

Só quero o que é triste ( Ricardo Rossi )

Só quero o que é triste
na infinita beleza.
de um olhar que prendi...
Quando tu eras a flor, na minha prima-vera.

S.Paulo 28/08/2010 16:35h
Ricardo Rossi

Amiga ( Florbela Espanca )


Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.


Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!


Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...


Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Antigos pensamentos ( Ricardo Rossi )

Ando perdido em antigos pensamentos,
que de mim no agora, estou esquecido.
Tendo no olhar o que antes foi vivido,
no agora de mim... sinto saudades!

S.Paulo 28/08/2010 15:30h

Ricardo Rossi

Vaidade ( Florbela Espanca )


A um grande poeta de Portugal



Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !


Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !


E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...


Livro de mágoas (1919)

Papel em branco ( Ricardo Rossi )

Eu tenho medo do papel em branco,
não sei o que nele há de nascer,
se dores presentes a serem expostas,
ou amores antigos  a resolver.

Da palavra nascida na alva superfície
deixo a alma escrever o que eu não disse,
no escrito que o tempo reterá no papel ( amarelecido )
em outro tempo... quem sabe, de um coração será cativo.

S.C.Sul 28/08/2010 09:00h

Ricardo Rossi

Os versos que te fiz ( Florbela Espanca )



Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.


Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !


Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !


Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.
 
 
Florbela Espanca

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Monólogo de Orfeu ( Vinicius de Moraes )

Mulher mais adorada! Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.

http://www.youtube.com/watch?v=Wqm-XfoWU2w

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

CICATRIZES – 12/07/10 ( www.extremosdemim.blogspot.com )


Ta tarde pra você querer mudar as coisas num abraço
Ta tarde pra me prender no seu laço
Que sempre foi frouxo de gratidão
Ta tarde pra me ver como sou
Seu espelho se quebrou nesta longa caminhada
Já não há mais alvorada
Em tamanha imensidão
Eu já não consigo enxergar algo a brilhar dentro do seu coração
Que é tão sombrio e deserto
Como a própria solidão
Ta tarde pra você me domar pelos cabelos
Se nem um fio de esperança sobrou
Isso já não é amor
Ta tarde pra plantar canaviais
Ta tarde pra entender os ancestrais que brotam dos meus olhos e minhas mãos
Você se confundiu e eu nem vi
Que o caminho não era por ali
Agora ta tarde pra voltar
E eu segui
No que era mais improvável aceitar
De um destino infeliz
Eu ainda consigo visualizar beleza
No que você acha ser tormento
Então ta tarde pra trazer pra dentro
O que sempre ficou lá fora
Ta tarde
E o que é tarde demora
Demora de mais pra cicatrizar


Débora Vasconcelos

VOCE APRENDE ( William Shakespeare )

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Aqui atrás da vidraça ( Ricardo Rossi )

Aqui atrás da vidraça aguardo o tempo bom.
Sei que o sol caminha acima da nuvem que chove,
Mas as lagrimas da chuva que pelo vidro escorrem,
Me estreita o coração... A porta esta fechada!
E pela vidraça vejo a vida que lá fora passa,
E a vida passa sem medo do relógio!
Mas as lagrimas da chuva que pelo vidro escorre,
meu coração comove!
Aqui atrás da vidraça vejo no reflexo minha alma espelhada,
e a chuva de lagrimas que no vidro escorrem...
refletem todas as tristezas.

Santos 24 de agosto de 2010 08:15h
Lígia Cerri
S.C.Sul 25 de agosto de 2010 22:30h
Ricardo Rossi

O que foi que deixei na bandeja ( Ricardo Rossi )

O que foi que deixei na bandeja...
Eu já não lembro mais?
Só sei que você tinha gosto da cereja
E eu um aroma de hortelã

Você se lembra daquele disco alienígena
Nele tinha uma canção dos anos 50
Você tinha o gosto de um poema
E eu o aroma da maçã

Lembra aquela rua antiga
E aquele beco sem nome
Eu lembro que sentia sono
E você guardava a fome

Você se lembra do que eu deixei na bandeja?
Eu te escrevi um poema
E você me trouxe a maçã
Débora... Você se lembra?

Você se lembra daquele D
E do calor que fez o dia
Eu tinha na boca o gosto da cerveja
E você o olhar da poesia.



S.C.Sul 25/08/2010 21:35h

Ricardo Rossi

STAND BY MY

DEMAIS
http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=2539741

John Lennon


Stand By Me


Made a meal and threw it up on Sunday
I've got a lot of things to learn
Said I would and I believe in one day
Before my heart starts to burn.

So what's the matter with you?
Sing me something new ...
Don't you know, the cold and wind and rain don't know
They only seem to come and go away


Times are hard
When the things you got no meaning
I found a key up on the floor
Maybe you and I will not believe
In the things we find behind the door


So what's the matter with you?
Sing me something new ...
Don't you know, the cold and wind and rain don't know
They only seem to come and go away


Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows
Yeah - Nobody knows the way it's gonna be


If you're leaving will you take me with you?I'm tired of talking on my phone
But there is one thing I can never give you
My heart will never be your home


So what's the matter with you?
Sing me something new ...
Don't you know, the cold and wind and rain don't know
They only seem to come and go away


Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows
Yeah - Nobody knows the way it's gonna be
The way it's gonna be, maybe I can see


Don't you know
The cold and wind and rain don't know
They only seem to come and go away


Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows the way it's gonna be
Stand By Me - Nobody knows
Yeah - God only knows the way it's gonna be


Me Apoie

No domingo, fiz e vomitei minha refeição
Tenho muitas coisas para aprender
Disse eu vou e partirei algum dia
Antes que meu coração comece a queimar


Então qual o problema com você?
Cante para mim algo novo...
Você não sabe? O frio, o vento e a chuva não sabem
Eles apenas parecem vir e ir embora


Os tempos são difíceis
Quando as coisas não têm significado
Eu encontrei uma chave no chão
Talvez você e eu não acreditaremos
Nas coisas que encontramos atrás da porta


Então qual o problema com você?
Cante para mim algo novo...
Você não sabe? O frio, o vento e a chuva não sabem
Eles apenas parecem vir e ir embora


Me apoie - Ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - Ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - Ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - Ninguém sabe
Yeah - Ninguém sabe de que jeito vai ser


Se você estiver indo embora Você me levará com você?
Eu estou cansado de falar ao telefone
Mas há uma coisa que eu nunca posso lhe dar
Meu coração nunca poderá ser o seu lar


Então qual o problema com você?
Cante para mim algo novo...
Você não sabe? O frio, o vento e a chuva não sabem
Eles apenas parecem vir e ir embora


Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe
Yeah - ninguem sabe de que jeito vai ser
De que jeito vai ser, talvez eu possa ver


Você não sabe?
O frio e o vento e a chuva nao sabem
Eles apenas parecem vir e ir embora


Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe de que jeito vai ser
Me apoie - ninguém sabe
Yeah - só Deus sabe de que jeito vai ser

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Receita de Mulher ( Vinicius de Moraes )

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível.
É preciso Que tudo isso seja belo.
É preciso que súbito Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens.
É preciso, é absolutamente preciso Que seja tudo belo e inesperado.
É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde.
Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo.
Olhos então Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente.
Uma boca Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras:
uma mulher sem saboneteiras É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os menbros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhavel na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras Do primeiro grau.
Os olhos, que sejam de preferencia grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre O embriagante mel;
e cante sempre o inaudível canto Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.

Receita de mulher ( Ricardo Rossi )

( para apaixonar um homem. )

Há que ter no olhar algo de saudade
falar com doçura ( sem fazer tipo ),
nas mãos um toque de ternura,
e um pouco de tristeza atrás de um sorriso.

Há que falar e saber ouvir na proporção,
há que saber o tom exato para o momento,
e guardar na boca, as vezes um silencio...
pronta para um beijo cheio de paixão.

Há que ser mãe, sem maternidade.
E ser irmã e ser amante ( incesto aparte).
Amiga? Só de vez em quando,
e gostar de flores ( mesmo por mentira).

Há que ter coragem para a vida,
ser guerreira destemida, e sem limite ser perdão.
Há que amar sem mentiras,
e na cama... ser atrevida.

Há que ter a doçura de uma vida,
No sorriso de um segundo.
Há que ter a dimensão da poesia,
e o amor mais profundo.

Ser a alegria do encontro,
mesmo no momento da despedida.
E sempre ter braços como ninho,
onde o amor sem vaidade se encontre!

S. Paulo 23/08/2010 16:13h

Ricardo Rossi

domingo, 22 de agosto de 2010

A quem tudo sabe ( Ricardo Rossi )

A quem tudo sabe, nada importa,
não há mistérios e alegrias, nem tristezas.
A quem tudo sabe, nada comove.
Não importa... pois de tudo é ciente.

E eu tão pequeno e confuso,
distante da verdade,
Sou quem tem saudades,
e as vezes choro na noite.

E eu que de mim não conheço,
sinto frio e tenho fome,
não sei a palavra certa,( nem o momento exato).
As vezes tenho sede e me vejo desencontrado.

E eu que cometo pecado.
eu que perdido no enredo,fico sem fala,
e quando falo tropeço.
Eu o abstrato de mim mesmo.

E em mim, me vejo sem vaidade.
E se me exponho corro o risco do ridículo,
e no entanto me exponho,
e todos os risco me perseguem.

A quem tudo sabe... vos digo!
Nada tenho a vos falar!


S.C.Sul 21/08/2010 15:13h

Ricardo Rossi

A colher conchinhas ( Ricardo Rossi )

É porque escrevo desfazendo os nós d’alma,
sei que pela estrada do papel, vou jogando fora
o que me pois a descontente de mim mesmo.
Dores sempre existirão, mas não as quero chorar!
Vou agora por esta estrada do papel que desconheço,
em busca do fim a um novo começo,
e do que em mim se faz perdão.
Não desejo tristezas e melancolias desfazendo as trades.
Também não serei a pureza da alegria,
Serei natural... pretendo ser natural um dia!
A tristeza sempre existirá, e é natural ser triste,
e é natural ser contente... e a vida assim se faz.
Meu relógio não tem ponteiros,
ando desgarrado do tempo,
não me importa as coisas que se prenderam no tempo,
quero abrir uma porta no muro que prendeu meus pensamentos.
O rio sempre corre para o mar,
a vida sempre segue como o sol ao poente.
O que se foi de mim, é o que nunca tive,
meu coração esta presente,
e não se prende aos ponteiros do tempo.
Sou eu o velho homem, que se faz menino de novo,
caminhando descalço pela praia, a colher conchinhas.

S.C.Sul 21/08/2010 13:38h

Ricardo Rossi

III - Ao Entardecer ( Fernando Pessoa ) Alberto Caeiro

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

Observações ( Ricardo Rossi )

Embora a fila da vida ande,
As vezes sou empurrado!

O problema é que tudo que peço ao diabo,
Deus me atende!

Ser velho e deixar de fazer a própria historia,
E passar a contar a própria historia.

Não podemos ostentar a luz da verdade,
Tão pouco vivermos nas sombras da mentira.

O grande mau da tirania,
é que ela sempre existirá.

Buscar e encontrar,
é uma questão de sentido!

A luz não mata a sombra,
apenas omite ela!

Amor é algo que não nos pertence,
Só faz sentido se o doamos!

Acordar, não é apenas abrir os olhos,
Nem dormir é fechalos.

Para se ser por inteiro,
É necessário se conhecer aos pedaços.

O perdão só existe
a partir do esquecimento.

O amor verdadeiro,
é alem do limite humano.

Generosidade é algo
que só existe na palavra.

Há que se distinguir bem
o que é amor, oque é  vaidade.

Arrastar pela vida as carcaças das magoas,
só nos faz escravos delas.

Entre o discurso e a atitude,
existe o abismo.

Algumas pessoas conhecemos apenas se as olharmos,
Outras, não precisamos conhecê-las.

Ter, nem sempre é por mérito,
antes uma circunstancia.

Não há sorte ou azar ,
apenas o momento.

Conhecer a Deus é uma idéia,
crer em Deus é uma atitude!

Amar e mentir são as duas faces de uma mesma moeda.

Quem não respeita os sentimentos alheios,
nunca teve sentimentos.

O que difere o herói e o covarde,
é o momento.

O sol nasce para todos,
Mas alguns vivem em uma escuridão eterna.

As palavras expressam uma idéia,
A idéia nem sempre se expressa em palavras!

Ser o dono do ouro,
não o torna dono da verdade.

Nascer e morrer é um lapso de tempo,
Com a vida dentro dele.

Na ciência se tem a explicação,
No coração se tem as duvidas.

A nascente de um rio,
não é o inicio das águas.

Sonhar é a primeira necessidade da vida,
Não sonhar é desistir da vida.

há que se saber na vida,
o que se guarda, e o que se joga fora!

sinto que neste mundo, falta amor,
mas se esbanja vaidades.

minha amante mais perfeita,
sempre foi minha mão direita.



(continuará... espero!)

Ricardo Rossi

sábado, 21 de agosto de 2010

Não sou sábio ( Ricardo Rossi )

Não sou sábio e não o quero ser,
Tenho em mim a ciência de quem nada sabe,
nada quero a saber!
Me dedico a olhar e sentir o olhar,
ouvir e vibrar ao som que vibra,
tocar e ser tocado em troca.
Me dedico ao que remexe os sentimentos.
E se vejo o mar verde, é verde no agora, não o será para sempre.
se palavras me comovem o olhar, é minha alma quem chora.
meu sentir tem toda a ciência e mais o que a sabedoria não ousa.
Nada sabendo me contento, e deixo-me na luz ao sabor do vento,
Sentindo o que em minha alma aflora!


S.C.Sul 21/08/2010 11:47h

Ricardo Rossi

Vá por este caminho ( Ricardo Rossi )

Vá por este caminho!
disse-me o sábio que é dono da razão.
Vá por este caminho!
disse-me o matemático que conhece a equação.
Vá por este caminho!
disse-me a mulher que me deu a paixão.
Vá por este caminho!
disse-me o dono do ouro que me nega um milhão.
Vá por este caminho!
disse-me a humanidade que é dona da expressão.
Vá por este caminho!
disse-me os olhos que é dono da visão.

Mas só fui pelo caminho que me indicou o coração.


S.C.Sul 21/08/2010 11:06h
Ricardo Rossi

Meus olhos buscam ( Ricardo Rossi )

Nos caminhos meus olhos buscam,
e nada sei o que busca meu olhar,
quando encontram o que buscam,
Não se faz surpresa em meu olhar!

Nada buscam meus pensamentos,
não deseja nada encontrar meu pensamento,
o dia vem e acorda o meu olhar...
Meus olhos buscam, mas meus pensamentos estão quietos!

Já não sou a corredeira do rio estreito,
Estou nas águas que o largo lago espelha.
E as flores floriram e o vento soprará,
e no espelho do lago, minha alma se deixa.

Não tenho mais pressa, ando mais lento,
e vejo mais devagar cada coisa,
e as coisas me vêem sem surpresa!
E somos íntimos porque nos desconhecemos.

Já não quero mais as coisas,
e elas de mim não necessitam!
Nos desconhecemos, somos íntimos , e não nos queremos!
Precisar de nada é ser livre em tudo!

Caminho agora pela vida como quem nasceu de novo.
E pouco importa se há destino!
Sigo pelos caminhos que já existiam,
e os caminhos existiam na minha ausência.

Nada afeta ao que existe, sempre existirá!
Pois assim há de ser, e será sempre.
As coisas não nos precisam...
E as coisas ficaram como coisas que sempre foram.

Quando eu partir, não levarei as saudades nem mágoas,
ficaram do lado de fora do meu túmulo,
La não haverá espaço suficiente!
Em uma placa sobre a terra...o nome que me coube.
E tudo estará perfeito, como perfeito sempre foram!

S.C.Sul 21/10/2010 10:23h


Ricardo Rossi

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Esqueço-me das horas transviadas ( Fernando Pessoa )

PASSOS DA CRUZ

Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros...
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco... Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...

No claustro seqüestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...


Fernando Pessoa

O QUE IMPORTA ( Ricardo Rossi )

A esperança é o desencontro da alma,
desencontrada de si a alma nutre esperança,
e não se deve esperar nada!
Se a chuva cair a tarde, é porque assim será!
Não se deve esperar que chuva caia na tarde,
nem esperar a prima-vera, ou flores de estação.
Ou sonhar na realidade o por vir, do agrado,
Viver o presente sem lembrar passado,
viver agora sem desejo do depois.
Quando vemos atrás... o que importa!
Se olhamos a frente... o que importa!


S. Paulo 20/08/2010 11:54

Ricardo Rossi

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sem propósito ( Ricardo Rossi )

Não cabe a verdade...Nem verdades existem!
Os olhos percebem o que ordena o sentido,
e os olhos nada sabem!
Não há nada permanente, mutável tudo é.
Este momento não reflete o que foi antes,
depois o que vê no agora, será passado.
Assim são as flores e o céu, um mudar constante e natural.
A nuvem que agora brilha, será a chuva de depois,
e depois a flor será esquecida, e nada altera o que é natural.
Nascer, viver e morrer, são partes do que é natural,
que assim seja... e que tudo naturalmente,
se farte de beleza.

S. Paulo 19/08/2010 09:52h

Ricardo Rossi

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PENSAMENTO SOLTO II ( Ricardo Rossi )

Se não cumpre o relógio, transgride a vida...
O tempo do ponteiro ordena o momento presente.
Mas não estou a vontade dentro deste tempo,
não quero sentir saudades, nem olhar atrás.

Seguirei no adiante que me espera...
Quem sabe uma poesia nasça na ponta da caneta?
quem sabe se na gaveta esquecida reencontre minha vida?
E na gaveta à encontre inquieta a minha espera?

Quero o que no amanhã me aguarda, sem receio e
nada espero do amanhã, somente que amanheça,
que o dia siga sem lembranças nem dores envelhecida,
ou desejos de inúteis vaidades.

Meu presente não mais deseja cumprir seu tempo
Segue desencontrado do que foi escrito no destino,
não quero cumprir o destino que me foi dado...
Nem a ele dedicar meus pensamentos.

Vou transgredir, caminhando ao contrario,
seguirei ao oposto do determinado... calmo e espontaneamente.
Sem alegrias e sem temores, nem lembranças adormecidas,
assim naturalmente, serei o sol que me ilumina.


S.C.Sul 16/08/2010 00:10h

Ricardo Rossi

domingo, 15 de agosto de 2010

Finitamente eterno ( Ricardo Rossi )

As vezes creio que tenho o perfeito entendimento da vida,
creio que a vida é um sopro apenas,
uma leve brisa que agita nossos cabelos,
um tempo ínfimo, que sentimos como tempo eterno.

As vezes creio que amar é o verdadeiro sentido,
e se entregar sem resistência ao que a vida dá,
e colher o que nas mãos caibam, e ser feliz ao que se tem.
Sendo o mesmo sentido diante dos enigmas divino.

As vezes creio que nada sei!
E nada devo saber diante do infinito, ver apenas!
Apenas saber o sobreviver ao tempo que tenho.
Comer, beber, respirar... existir apenas!

E dentro de mim algo se agita, quero o infinito...
Alem de mim mesmo quero o eu eterno,
quero o que não tenho, quero o omitido de mim,
O que ao tempo resiste, que se perpetue em meu ser!

Me contento de nada saber, e ter toda a ciência comigo.
E ser eterno no meu tempo finito,
Comer, beber, respirar... e ser alem de mim,
Um eu que me faço presente no agora finitamente eterno!

S.C.Sul 15/08/2010 9:58h

Ricardo Rossi

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CÉU POENTE ( Ricardo Rossi )


Quando não tenha mais tempo de contemplar o poente,
e minhas ocupações forem maiores que ver o poente,
serei menor que eu, ficarei pequeno em grandes enganos,
serei quem de mim evito.
Não se esquecer vendo o poente... sem vontade outra,
só o poente que pinta o céu e as águas e o olhar.
Sem desejos nem apegos , perder o nome e a sede e a fome,
Perder até o olhar e o destino, sem dó da vida...
Nem pena do que ela nos faz...
Não desejo outros sentidos, só quero ver o poente.
Sem tristezas, nem contentamento, nem amores, ou ilusões.

Quando eu esquecer o céu que se faz no poente... não me quero mais!

S.C.Sul 13/08/2010 21:55h

Ricardo Rossi

terça-feira, 10 de agosto de 2010

No infinito ( Ricardo Rossi )

Não perderei o amor que tenho!
Amo a brisa e amo o vento,
a aurora e o poente,
e as luzes do firmamento.

Amo a terra e amo o mar,
e só no amor estou presente,
e só no amor eu sou contente...
Por isto amo desmedido e constantemente.

Não perderei o amor que tenho!
Porque a mim foi dado,
e entrego a quem quiser,
amo a quem de direito, e sem merecimento...amo também!

Amo o céu e o sol que me queima,
amo um amor que teima, e vive a me matar.
Meu amor não tem medida,
Não tem começo nem saída.

Vive aberto em meu peito como ferida,
é porque amo tudo que me da vida.
E alem, muito alem, mais ainda...
no infinito, hei de amar eternamente!

S.C.Sul 08/08/2010 23:33h

Ricardo Rossi

Quero o copo pela metade ( Ricardo Rossi )

Quero o copo pela metade.
Não de água nem licores,
Mas de tristes amores,
E almas abandonadas.


Que as flores dos jardins,
fiquem tristes e esquecidas,
que as pétalas na terra caiam,
e perfumem as raízes profundas.


E do suave aroma,
que a terra me cubra.
Não da vida que finda...
Mas de um amor que creio ainda.

S.C.Sul 10/08/2010 22:58h

Ricardo Rossi

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

el tiempo pasa

el tiempo pasa
nos vamos poniendo viejos
y el amor no lo reflejo como ayer
y en cada conversacion, cada beso, cada abrazo
se impone siempre un pedazo de razon

pasan los años y como cambia lo que yo siento
lo que ayer era amor se va volviendo otro sentimiento
porque años atras tomar tu mano, robarte un beso
sin forzar un momento
formaron parte de una verdad

y el tiempo pasa
nos vamos poniendo viejos
y el amor no lo reflejo como ayer
y en cada conversacion, cada beso, cada abrazo
se impone siempre un pedazo de temor

vamos viviendo viendo las horas que van muriendo
tambien las discusiones se van perdiendo entre las razones
a todo dices que sy, a nada digo que no
para poder consumir la terrible armonia
que pone viejos los corazones

porque el tiempo pasa
nos vamos poniendo ciegos
y el amor no lo reflejo como ayer
y en cada conversacion, cada beso, cada abrazo
se impone siempre un pedazo de razón



Silvio Rodriguez

Uma só verdade ( Ricardo Rossi )

Queria ter em minhas mãos todos os sentidos,
em meus cuidados todos os amores,
queria pintar em cores tudo que em mim é cinzento,
e queria dar leveza ao que pesa meu pensamento.

Eu queria... ainda mais eu queria.
Tenho-te ao meu lado e sinto tua presença,
teu olhar me acompanha, me cerca teus cuidados...
és a flor, flor que guardo na primeira-vera.

De uma primavera em furor de verão
de coração aberto, queimamos as madrugadas
Flores perfumaram as noites, despertaram os dias

E a brisa que soprou na madrugada,
Trouxe o perfume de outras manhãs.
E a vida que vivemos foi feita de uma só verdade!

S.B.Campo 21/09/2007 09:10h
S.C.Sul 09/08/2010 19:45h

Ricardo Rossi

QUARTETO ( Ricardo Rossi )

Quando eu sigo pelos caminhos e pareço estar sozinho, não o estou!
Há mais três que seguem comigo, minha sombra, meu coração,
e o eu que em minha cabeça habita!

Minha sombra é muda, nunca me diz palavras,
más é fiel como o cão do cego,
me segue por onde vou, e sempre calada me acompanha!
As vezes se alonga de mim, como que se desejasse fugir, Mas comigo fica!

Meu coração é os meus assombros, me diz coisas lindas e me grita blasfêmias,
e chora saudades e vive tristezas e salta em alegrias.
Ele é livre, e a sua vontade vive, faz o que faz, e faz o que quer, nunca me avisa,
e é sempre triste ou contente, imprevisto e independente, e mentiroso também é.
É um moleque que não quer crescer, traquina e desordeiro, e sei que ele é por inteiro.
Mas quando se entristece, não há nada que seja mais triste... nem a morte ( se é que a morte é triste),
E quando triste ele me envolve, meus caminhos se alongam, de mim tudo se torna distante.
Meu olhar busca horizontes que não existem , e ele me toma de sua tristeza, sem culpa nem remorso,
me escraviza em seus sentidos, e me maltrata com os seus desatinos e pelas horas matinais me chama, as vezes me faz acordar em assombros que ele cria, e me carrega em seus sentidos, mas também as vezes ele é feliz, salta contente e me toma a mente de modo que de mim nada sei, e tudo se encanta e luz se enche no meu olhar, tudo musica se torna o meu caminho, então seguimos contente, ou triste, não sei é meu coração quem domina!

O eu que em minha cabeça habita, é quem me permite viver, é meu equilíbrio e de mim tudo é ciente, sabe meu passado e meu presente e me conta o que há por vir, e é ele que me fortalece quando eu desejo para sempre dormir, e a mim me força a seguir em frente, e me conta historias estranhas que ainda não vivi, de mim tudo sabe, é ele quem guarda minhas culpas e remorsos e também minhas alegrias e meus atos que os fiz bem feito.
Meu eu que me guia é quem me faz estar presente!

Assim neste quarteto em que vivemos,
seguiremos rindo ou chorando aqui e adiante,
até o dia que de nós nos partiremos,
e ficaremos cada qual... em seu lugar!

S.C.Sul 08/08/2010 23:50h

Ricardo Rossi

domingo, 8 de agosto de 2010

QUERO LÊR GARCIA MÁRQUEZ ( Ricardo Rossi )

Não quero escrever poesias...........

Quero abrir a janela e gritar
Quero correr pelas ruas ( sem rumo)
Quero beber água salobra
De sal fartar minha boca
Queimar meus quadros
Todos em uma só fogueira
Rasgar os papeis ( dilacerando palavras )
Raspar os cabelo e sobrancelhas
Não quero a mão que piedosa me toque
Não quero rezar ou criar promessas
Estou com raiva de mim e de minha sombra
Meus pensamentos me atordoam
Não quero escrever poesias
Quero gritar horrores
E proferir baixarias
Blasfêmias, palavrões , descalabros e cortar as veias
E deter meu coração
E velar meu caixão e rezar minha extrema-unção
E me enterrar em solidão.
E quando de tudo já estiver cansado.......

Quero sentar em um banco de jardim a sombra de uma quaresmeira e lêr Garcia Márquez!

S.C.Sul 08/08/2010 22:06h

Ricardo Rossi

LIBERTO NO INFINITO ( Ricardo Rossi )

Quando eu estiver velho,
absolutamente velho ( se é que velho eu fique ),
Com meu olhar velho,
e minha alma ressequida.

Desejarei de um piano uma doce melodia.
Um pouco de sol no dia, e uma estrela que eu veja na noite.
Meu coração pedra , velha pedra não terá saudades,
lembrarei confuso de nomes e dias,
que sobreporei um ao outro como faço nos sonhos ( de agora ).
Mas estarei acordado, em pensamentos
embolados de fraguimentos esquecidos,
vagando na memória perdida, do tempo que foi minha historia.

Quando eu for velho, muito velho,
velho de amor rançoso e olhar bolorento,
velho muito velho, de não amar mais o vento,
e não mais entender as flores e esquecer os amores.

Meu corpo quero estendido em lençol branco,
sem desejo nem mais sonhos neste plano.
Meu olhar em sonho eterno, sem apego ao que aqui fica.
Quero ir-me sonhar ... liberto no infinito!

S.C.Sul 08/08/2010 09:34h

Ricardo Rossi

sábado, 7 de agosto de 2010

ALEM DO OLHAR ( Ricardo Rossi )

Não são os olhares quem me cativa;
São os seres que vivem atrás dos olhares que me comovem!
Não se sabe verdade em um olhar, mas verdade é
o que no olhar mergulha...
O que flutua no olhar perdido e ausente,
é tudo o que mente e transgride a realidade.
Nos olhares não me vejo, mas no que vive atrás do olhar eu me encontro.
Não conheço quem de mim o olhar esconde!
E se meu olhar omito, é a quem não me entrego.
Enchergo o olhar das pedras e das flores,
e não tem olhos pedras e flores, só  essência...
E a verdade vive na essência que do olhar vaza.
Então eu não conheço pessoas!
Amo o que existe alem  do olhar............ essência!

( o olhar é a janela da alma. )

S.C.Sul. 07/08/2010  12:30h

Ricardo Rossi

E EU? ( Ricardo Rossi )

O mar, vazou.
O mundo, girou.
O tempo, passou.
O vento, soprou.

E eu?

O carro, partiu.
O sonho, sumiu.
A estrela, caiu.
O amor, fugiu.

E eu?

O cigarro, fumou.
O padre, rezou.
O pássaro, voou.
O menino, chorou.

E eu? Aonde estou nesta história?

S.C.Sul. 07/08/2010 12:00h

Ricardo Rossi

RESPOSTA "colhedor de sonhos" ( Ricardo Rossi )

Bem sei que me olhas, e vê o vento,
bem sei que me vê, e teu olhar em mim
te levas a imaginar quem eu poderia ser.
Mas não sou quem teu olhar deseja!

Mesmo eu não sei quem sou,
em certas manhãs sou a certeza,
em certos dias sou a duvida,
e certas noites sou a tristeza.

E neste eu de eus diversos...
É neste eu de sentidos incertos.
Que me habito em meu universo.
E já não me desgosto!

Colho sonhos e devaneios,
Sou um colhedor dos sonhos que semeio,
e de sonhos meu celeiro esta repleto.
Quem sonha acordado enxerga realidade!

É minha vida, e meu caminho é este!
Não tenho segredos e não minto a mim mesmo.
Sou o colhedor de sonhos,
sonhos... que pela vida semeio.

S.C.Sul 07/08/2010  10:46h

Ricardo Rossi

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

FAZ TEMPO ( Ricardo Rossi )

( Para minha querida amiga Camila Gaudio )

O tempo vem quando é tempo de chegar.
Não vem antes nem depois.
Chega justo ao seu tempo, e seu momento é certo.
Não se faz verdades olhando o relógio!
Nem se é melhor quem tem saudades!
O tempo se sabe em seu tempo.
E faz botão abrir flor, a sua vontade!
E céu azul e céu chove ao tempo certo.
Não chega antes quem corre, nem depois quem espera.
Tudo chega ao seu tempo quando o tempo chega.

Mas faz tempo que pedi a bebida, e o garçom não chega!

S.C.Sul 06/08/2010  22:50h

Ricardo Rossi

Quando Vier a Primavera ( FERNANDO PESSOA )

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.



Alberto Caeiro

OLHAR DE FLECHA ( Ricardo Rossi )

( para uma menina que me deu uma revista e 200 anos de contentamento )


Mira o teu olhar puro e certeiro como flecha,
e tua palavra doce minha alma acerta.
Tua pureza de olhar e gesto
teu encanto , meigo e sincero,
minha alma acalanta.
És a pura flor , para o olhar cansado
do velho pássaro, que já tanto voou
por céus azuis e cinzentos,
entre nuvens e pensamentos,
com a alma no poente
e o coração aqui presente.
Dádiva divina, teu olhar me ilumina...
E faz sentido, ao meu existir!


S.C.Sul 06/08/2010 20:30h

Ricardo Rossi

CALADO ( Ricardo Rossi )

Estou doente, há muito tempo doente...
E cura não se vê, ficarei para sempre doente.
A casa em que nasci desabou , virou um edifício,
como uma lapide gigante ... aqui um dia nasceu!
Meus males me acompanham, e por ter a tanto comigo,
amigos meus são pelas entranhas.
As flores do jardim que um dia despertou meu olhar,
morreram, não de saudade que as flores não sentem,
morreram, velhas.
Já não vejo o jardim que despertou meu olhar,
busco outras flores, mas elas estão sem brilho.
Meu olhar já não desperta , apenas vê.
E meus sentidos os guardo na gaveta.
Meus sentidos me importunam, não penso com clareza.
Minha gaveta esta cheia, preciso de gavetas...
Muitas gavetas para guardar sentidos, onde eu os tranque
engavetados e deixe meus sentimentos ali esquecidos.
Visto a limpa camisa e penteio o cabelo,
me ajeito em meu jeito e saio.
Na porta de entrada, por onde saio, encontro meu passado,
que segue comigo no presente.
Me ajeito de meu jeito, e sigo eu comigo,
simplesmente... calado.

S. Paulo 06/08/2010

Ricardo Rossi

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Amor é uma Companhia ( FERNANDO PESSOA )

 O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.



Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

Assim Como ( Fernando Pessoa )

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.


Alberto Caeiro

CORAÇÃO DE MENINO ( Ricardo Rossi )

Meu coração de menino
não faz conta do meu tempo,
meu coração de menino
vive em outra dimensão de tempo,
e a seu próprio tempo ele vive.
Ele não pensa... ele é coração
e coração apenas sente.
Ama as vezes, e as vezes esquece o que amou,
de modo que quando esquece,
me livra do sofrimento.
Meu coração de menino
tem um jeito tempestivo e sereno,
ambigue em seu sentir,
e as vezes nada sente ele.
Meu coração embora seja meu tormento,
também é o que de melhor tenho em mim!

S.C.Sul 04/08/2010 23:45h

Ricardo Rossi

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FADO TROPICAL ( Chico Buarque/ Ruy Guerra )

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto.


Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto.

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa".

XVIII - Quem me Dera que eu Fosse o Pó da Estrada ( FERNADO PESSOA )

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena ...



Alberto Caeiro

XIV - Não me Importo com as Rimas ( Fernando Pessoa )

Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...


Alberto Caeiro

Morreu meu coração ( Ricardo Rossi )

Jaz aqui em mim, meu coração
no amor morto de morte súbita,
sem causa outra, só tristeza!
De tristeza se vive e tambem se morre...
Morreu meu coração!
Não fiz oração em seu féretro,
porque pensei certo, e ele amou errado.
Foi o dono do pecado e do seu próprio sofrimento.
Amor que jogou fora, esbanjou sem juízo,
em olhares perdidos em tempos desgastados.
Aqui jaz por morte súbita,
um coração que viveu apaixonado.

S.Paulo 04/08/2010

Ricardo Rossi

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A la Palma Criolla

Dedicada a AGUSTIN ACOSTA


Tan maravilloso anhelo
tu mismo germen encierra,
que apenas rompes la tierra
ya sueñas llegar al cielo...
De pie sobre nuestro suelo,
simbolizas la Victoria;
y cuando el ala ilusoria
del aire ante ti suspira,
cada penca es una lira
que canta tu eterna gloria.


Rafael García Bárcena  ( POESIA CUBANA )

Eternidad

No quiero, si es posible,
que mi beneficio desaparezca,
sino que viva y dure
toda la vida de mi amigo.

Séneca

En mi jardín hay rosas;
yo no te quiero dar
las rosas que mañana . . .
mañana no tendrás.

En mi jardín hay pájaros
con canto de cristal;
No te los doy, que tienen
alas para volar . . .

En mi jardín abejas
labran un fino panal;
¡Dulzura de un minuto . . .
no te la quiero dar !

Para ti lo infinito
o nada; lo inmortal
o esta muda tristeza
que no comprenderás . . .

La tristeza sin nombre
e no tener qué dar
a quien lleva en la frente
algo de eternidad . . .

Deja, deja el jardín . . .
no toques el rosal;
Las cosas que se mueren
no se deben tocar.


Dulce María Loynaz ( POESIA CUBANA )

Versos sencillos ( José Martí )

Yo soy un hombre sincero
De donde crece la palma.
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma.


Yo vengo de todas partes,
Y hacia todas partes voy:
Arte soy entre las artes,
En los montes, monte soy.


Yo sé los nombres extraños
De las yerbas y las flores,
Y de mortales engaños,
Y de sublimes dolores.


Yo he visto en la noche oscura
Llover sobre mi cabeza
Los rayos de lumbre pura
De la divina belleza.


Alas nacer vi en los hombros
De las mujeres hermosas:
Y salir de los escombros
Volando las mariposas.


He visto vivir a un hombre
Con el puñal al costado,
Sin decir jamás el nombre
De aquella que lo ha matado.


Rápida, como un reflejo,
Dos veces vi el alma, dos:
Cuando murió el pobre viejo,
Cuando ella me dijo adiós.


Temblé una vez –en la reja,
A la entrada de la viña.—
Cuando la bárbara abeja
Picó en la frente a mi niña.


Gocé una vez, de tal suerte
Que gocé cual nunca: --cuando
La sentencia de mi muerte
Leyó el alcalde llorando.

Oigo un suspiro, a través
De las tierras y la mar,
Y no es un suspiro, --es
Que mi hijo va a despertar.


Si dicen que del joyero
Tome la joya mejor
Tomo a un amigo sincero
Y pongo a un lado el amor.


Yo he visto al águila herida
Volar al azul sereno,
Y morir en su guarida
La víbora del veneno.


Yo sé bien que cuando el mundo
Cede, lívido, al descanso,
Sobre el silencio profundo
Murmura el arroyo manso.


Yo he puesto la mano osada
De horror y júbilo yerta,
Sobre la estrella apagada
Que cayó frente a mi puerta.


Oculto en mi pecho bravo
La pena que me lo hiere:
El hijo de un pueblo esclavo
Vive por él, calla, y muere.


Todo es hermoso y constante,
Todo es música y razón,
Y todo, como el diamante,
Antes que luz es carbón.


Yo sé que el necio se entierra
Con gran lujo y con gran llanto,--
Y que no hay fruta en la tierra
Como la del camposanto.


Callo, y entiendo, y me quito
La pompa del rimador:
Cuelgo de un árbol marchito
Mi muceta de doctor.


José Martí

La rosa blanca

Cultivo una rosa blanca
En Julio como en Enero
Para el amigo sincero
Que me da su mano franca

Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo
Cardo ni ortiga cultivo
cultivo una rosa blanca

José Martí ( Poeta e libertador Cubano )

Não sou poeta ( Ricardo Rossi )

Não sou poeta,
sou apenas um amador
que sei chorar nas rimas,
a minha própria dor !

São Paulo
16/06/06
Ricardo Rossi

NOITE DE PEDRA ( Ricardo Rossi )

I
e agora...a hora passa
o tempo passa...
e meu coração retém,
restos de lembranças
Navegam no mar da minha saudade,
flutuam entre luzes e sombras.
Fico estático ante os sentidos,
e agora...meu coração aperta
e meus olhos já nada pedem,
agora...partiste levando minha alma,
agora...o tempo já não importa.
Já não importa a dor
a dor já não mais existe,
tudo cristalizou em meu ser.
Tornei-me pedra,
cristal feito de saudades.



II
E agora que esta hora
estática é minha companhia,
Fico aqui ante a vida
na espreita da morte
que me chega mais em cada hora,
e não temo o tempo que em mim se finda,
o tempo é minha essencial matéria,
o amor é meu essencial sentido,
e a vida é o meu essencial desejo.




III
E agora já não tenho temores.
Vejo a praia quase deserta
e meus olhos já não trazem desejos,
a noite cai...suave como uma mão materna,
embala em seu murmúrio a minha vida repleta.
Busco longe a primeira estrela.
E ela não veio...
e não vieram estrelas nesta noite.
Fico aqui ao sabor do vento.
Fico aqui ao sabor da vida.
E não virão estrelas nesta noite,
nem anjos a me consolar,
porque tornei-me cego-surdo,
e nada toca meus sentidos.
Fico aqui estático cristalizado
nesta noite de pedra !


Santos
23/04/2006 – 17h:57 min
Ricardo Rossi

CAMINHO

Ir até onde...
que sabe Deus permita.
Na estrada que sai de nada,
e segue por onde?
Que em sua beira, o pó...
levante-se leve em meu caminhar.
Pedras e secos galhos,
se deixem no caminho...
A contemplar o viajante cego!
A seguir no tato dos pés,
rumando ao seu destino.
Não sou eu quem caminha,
nem é a vida que me guia!
É o caminho seco de poeira e pedra,
que minha vida leva.

São Vicente
29/06/05
Ricardo Rossi

INSTANTE

Já não tenho mais anseios.
Já não vivo mais as angústias.
Meus olhos já não buscam...
além de um hoje essencial.
Meus sonhos não são mais
que uma valsa ouvida
em um jardim sem flores.
Minhas mãos de homem,
já não pesam...
Apenas tocam suave, as pedras...
as mesmas pedras que travaram o meu destino!

São Caetano do Sul
07/07/05
Ricardo Rossi

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

VOAR BORBOLETA ( Ricardo Rossi )

I   ( A CARTA )

Porque eu escrevo, não sei?
Porque se a mim me vejo, penso que sou eu.
E meu eu não me conhece,
Escrevo no papel aquilo que penso,
E penso que no papel eu me escrevo.
Não sou Deus, mas não tive começo e não terei fim
De modo que não mereço saber nada de mim.
Pois quando se caminha para a morte,
Existe o desejo de no fim se saber por inteiro,
Não morrerei, apenas mudarei de forma,
Como a lagarta se torna asa e voa borboleta,
Que faz outra lagarta e borboleta voa!
Eu ontem não existia, agora aqui dentro de mim, não me sei.
Quando de mim eu me partir, quero a mim contar um segredo.
Daquilo tudo que sabia e daquilo que não sei.
E assim escrevo, vou aqui e ali no letreiro, contando os pedaços,
Até chegar um dia ao eu inteiro.
não gosto do que olho ao espelho,
Então me vejo no papel onde me escrevo,
Uma carta que agora escrevo de mim para mim,
Para ser lida somente quando de mim eu necessite.

II    ( O CRER )

Creio ser bom, e penso ser bom...
Mas não o sou , me amo pouco, um quase nada.
De modo que não sou um bom homem,
Eu amo muito o eu que imagino,
Mas no eu do meu destino, amo quase nada.
Dou mais amor a quem amo, porque me amo pouco,
Então me sobra amor para dar!
E não importa se é a fina seda que me veste,
Me amarei pouco, vestido de fina seda.
Gostaria de gostar de mim, de ser o único motivo da existência,
Mas não posso, no espelho da alma vejo meus defeitos
E com calma, conto os meus defeitos...
Me amo pouco, mas finjo que é muito,
Minto a mim mesmo... e minto para a minha sombra,
E Minto para os meus pensamentos.
De jeito que de mentiras sou meu apaixonado.

III   ( O OLHAR )

Sento-me ao pé da vida, fico ali calado,
Vendo a vida e os viventes,
E sinto inveja dos que passam em
Passos seguros com cabeça erguida e olhar de muro,
As vezes tropeço em meus passos...
As vezes eu tropeço nas minhas palavras,
As vezes tropeço nos meus sentimentos,
E ainda as vezes tropeço em minha sombra,
Vendo os viventes altivos e contentes!
Me vejo só e desolado, -serei o único neste mundo?
As vezes tenho medo, e também vontade de chorar.
Mas não existe ombro a consolar meu pranto!
Então do pé da vida me levanto,
E não penso mais nada.

IV  ( O DINHEIRO )

Eu queria ter muito dinheiro e não ter amor,
Compraria pessoas e amor, e as pessoas me amariam
Em dinheiro a vista ou um pouquinho a prestação.
E então conheceria o amor verdadeiro,
Amor de dinheiro, amor vinculado ao saldo,
Amor vivido até o ultimo pagamento.
Registrado em cartório com titulo de propriedade,
E recibo de quitação.
Mas não tenho dinheiro para comprar amor.
Então compro cigarro e pão.

V  ( A IDADE )

Tenho mais de cinqüenta anos,
e um olhar perdido sobre este mundo.
Não creio mais neste mundo, nem nas pessoas.
Não creio em nada...
Mas pela sina ou pela sorte, estou aqui presente,
E seguirei à frente até eu um dia... voar borboleta!


São Paulo 02 de agosto de 2010 23:38 ( a rua esta fria )

Ricardo Rossi

domingo, 1 de agosto de 2010

É preciso

É preciso ter sempre,
um sorriso guardado no bolso,
e um beijo guardado na alma...
É preciso ter sempre
e pronto para uso,
um olhar com brilho especial.
É preciso ter sempre uma esperança,
mesmo quando tudo parece impossível...
É preciso crer no amanhã
muito mais do que no ontem !

São Paulo
28/05/2002
Ricardo Rossi

VIAGEM NO SILÊNCIO

Esta noite viajei no silêncio.
Roncos motorizados cortaram a escuridão.
E a noite foi lenta, caminhou em passos cansados.
Rangidos da alma cortaram meu coração.
E minha alma se entregou ao eterno,
ao eternamente omitido...
ao eternamente calado...
ao tudo que não foi dito pela eternidade.
O tempo cura dos corpos todas as feridas,
e na alma uma dor eterna fica.
E minha cama é inútil.
E minhas horas é o desespero da minha inutilidade.
Partiu-se meu coração como um jarro,
vazio, oco...e a dor não doeu.
Ficou a bailar no escuro,
dançarina vestida de negro, no escuro, um fantasma.
E minha dor não doe mais nos meus sonhos.
E meus sonhos já não estampam minha perplexidade.
A noite se foi em seus passos lentos,
estrelas apagaram-se.
Meus olhos miraram o dia
e meu peito não sentiu nada.

São Vicente
15/01;06 – 11:20h
Ricardo Rossi

Meu Deus...Meu Deus

Meu Deus...
Meu Deus...
Eu já vivi e fiz,
tantas coisas neste meio século que me destes,
tanto suor correu pela minha face,
tantos passos caminharam meus pés,
tantos amores doeram em meu coração,
tantas despedidas viram os meus olhos
e encontros também viram.
E ainda não compreendo a vida.
E talvez me de quem sabe, por castigo,
mais meio século para aprender.
E sei que eu, relapso aprendiz da vida de um século,
não aprenderei nada.
Tempo de amar eu tive.
Tempo de saudade eu senti.
E outro tempo de lembranças eu vivi.
Busquei a felicidade
mas ela seguiu sempre adiante.
Já não tenho mais vontade.
A noite não me espanta.
Não me assombra o grito na rua,
e a vida passa como quem segue ao nada.

São Vicente
Fevereiro/06
Ricardo Rossi

CONTRADITÓRIO

I
Eu não quero a palavra sonada.
Quero ouvir tudo que foi calado no silêncio.
Não quero o tempo...
Quero o que ficou imobilizado intacto inerte.
Quero o inacessível,o impossível eu quero.
Não ao gesto, não ao presto, mas o incerto.
Antes quero tudo o que não quero.
Quero o contraditório, o avesso e o indizível.
O que dói eu quero, o que corróe.
O que descria, e o que não foi criado.
O que não veio, quero o inexistente.
Quero o frio quente e o quente gelado.
Não quero o que foi dado.
Quero o negado, quero o omitido.
E tudo que for nada.
Quero da vida a morte e da morte tudo que é vida!

II

Quero tudo que foi errado no certo,
e o certo quero quando for errado.
Quero ainda mais...
Quero tudo o que não posso.
Quero o silêncio do grito e o grito calado.
Quero a noite do meio dia e na escuridão o sol que brilha.
Quero o santo pecador e o pecado santificado.
Quero me saciar de fome e ter fome quando saciado.
Quero do amor o ódio e do ódio o que for amado.
E assim tudo querendo...
anseio querer nada!


São Vicente
14/01/06 – 23h22 min
Ricardo Rossi

Se Deus querer

Eu morreria hoje se assim Deus me quisesse.
Mas talvez Deus hoje não me queira?
Ou talvez a Deus hoje eu não mereça?
E ainda de mim eu não me vejo repleto!
Ainda meu peito segue amplo...aberto,
e o tempo em que me tenho, ainda não está completo.
Mas morreria hoje se assim Deus quisesse.
E nada importaria ao tempo que segue,
tempo que segue absoluto e indiferente,
ao tudo que meu tempo me fere.
E se Deus assim quisesse,
nada mais importaria ao tempo que se segue.
E meu tempo nada me dá,
nada me pede.
Apenas segue como o tempo de todos segue.
Morreria hoje se Deus quisesse,
mas morrer hoje, eu não quero!

Santo André
05/10/06 – 11:30h
Ricardo Rossi

Ainda que me destes teus sonhos

Ainda que me destes teus sonhos,
de nada me serviria pois desejo mais...
Desejo de ti o sentido da poesia!
Desejo de ti a dor de uma saudade,
a alegria do encontro
a tristeza da partida.
Desejo teu olhar como um farol em um mar
a guiar-me na vida.
Desejo da tua boca
a palavra nunca dita
e não teus beijos sem verdades.
Desejo um gesto que acalante minha partida.
E seguirei adiante de mim mesmo
já sem outra realidade.
E me levarei a mim mesmo
já sem tristezas,
sem dor ou desesperança,
para alcançar ao tempo, um tempo,
em que tu sejas a ternura de um amor
onde eu me encontre!

Cajati
08/08/06 – 19:54h
Ricardo Rossi

Não levei teus sonhos

Não levarei de ti teus sonhos.
Não guardarei de ti teus desejos.
Mas guardarei por eterno o sabor dos teus beijos!
Guardarei para o infinito a imagem de uma azaléia nos cabelos.
E não levo de ti tuas palavras
nem mentiras nem verdades,
frases perdidas soltas no ar,
e na memória um eco distante.
Mas guardarei um olhar cheio de verdades.
Guardarei o teu silêncio,
silêncio de um olhar perdido sem vaidades,
Do tudo que me deste guardei como jóia rara um papel com palavras.
Guardarei teu aroma de flor despetalada.
Guardarei o sabor da tua lágrima salgada,
e o sentido de quando tu eras tudo... de quando tu eras nada!

Cajati
01/08/06 – 21h27 min
Ricardo Rossi

Só olhando

O carro passa roncando.
O cavalo passa trotando.
A mulher passa rebolando.
O ciclista passa pedalando.
E eu fico aqui só olhando!

Cajati 07/2006

Ricardo Rossi

Quando me penso

Quando me penso
é como não pensar.
Deixo as imagens a me levar,
e se me penso e por não querer pensar,
deixo leve a minha alma
e não tenho pena de nada.
E se em Deus penso
é como se estivesse eu
um Deus a criar,
e de mim um reflexo a revelar.
E já não tenho nada a pensar.
Nesta tarde chove e o céu está cinzento
E nada me comove,
nem a chuva... nem o vento.
Não tenho tristezas, nem alegrias.
Vejo o mundo e tudo que segue em romaria.
E o céu está cinzento e sem pássaros.
Olho aos meus sapatos
e sinto, quão bons amigos.
O céu está cinzento...
Eu sem pensamentos,
eu sem sentimentos.
E não me importa o céu,
a chuva que cai, e o vento.
Esta tarde é cinzenta,
e meu olhar, sobre este mundo é toda calma.
E nada mais deseja minha alma.

São Paulo
16/06/06 – 17:03h
Ricardo Rossi

MELANCOLIA

A melodia retive no olhar.
E passaram breves os dias,
e foi singela a esperança,
fui perder-me na praia vazia.
Nem pássaros marinhos,
nem olhares,
só as tristes ondas quebrando,
e meus pés riscando
a desolada areia.
Retive na boca a palavra não dita.
Retive nos lábios o sabor
de um beijo não dado,
e o Sol inutilmente desperdiçava
a fosca luz do próximo crepúsculo.
Em vão vieram estrelas
pontear o manto da noite.
Cobriu-se o alto firmamento de escuro,
e não vieram os anjos
trazerem-me sonhos.
E não vieram os sonhos.
E não veio a dor.
Nem lágrimas, nem desencantos.
Só o silêncio em torno me aguardava.
E a noite seguiu mansa
levando pelo escuro...entre estrelas,
minha alma já cansada.


São Paulo
Estrada das Lágrimas (ônibus)
31/05/06 – 08:35h

Ricardo Rossi

FÓRA DE ALCANCE

Tudo no mundo
era limite à minha vontade.
A fome,
o sono,
o amor,
o poder aquisitivo,
a ansiedade de partir,
o desejo de chegar,
a alegria de ficar.
E tudo estava longe,
fóra do alcance !
E minhas mãos nos bolsos,
buscavam nada.

Cajati
05/07/06 – 22:04h
Ricardo Rossi

MELODIA

Tua calma é a triste melodia
que cantas em tua alma.
Os sinos do longe campanário estão mudos.
E os pássaros migraram
na busca de um céu puro.
Longe ficaram os anjos de branco.
Perdidos ficaram os anjos de azul.
Em mim ficou o sentido do verbo
pregado na cruz.
Tua calma reflete a tristeza,
e minha voz uma vaga esperança.

(Para Cidinha)

São Vicente
27/05/06 – 19:45h
Ricardo Rossi

Gosto

Gosto do sorriso
e do olhar que sorri.
Gosto da fala que fala
e do falar, gosto de ouvir.
Gosto do gesto esquecido,
e de esquecer o gesto.
E gosto da saudade o sentir,
e da saudade gosto de ouvir
o que na saudade deixei.
Gosto de gostar.
Gosto do que gosta apenas,
sem exaspero e sem flores,
apenas gostando à toa.


São Vicente
14/04/2006 – 16:02h
Ricardo Rossi

MARCAS

Que a vida nada apague,
e marcas fiquem em mim
como frases da minha história.
E que a neve do tempo
Nos meus cabelos fiquem!
Que assim seja a vida,
um constante coroar de marcas,
a escrever em mim, minha história,
em minha alma todos os anseios,
em meus olhos todos os desejos.
Para que um dia neste livro-humano
nada mais tenha a ser escrito !


São Caetano do Sul
09/12/2000 – 13:15h
Ricardo Rossi

Amar é mentir para a alma

Amar é mentir para a alma
com as palavras do coração,
mas amar é também
perder os sentidos,
viver sem razão.
Amar talvez seja,
a razão no avesso
da razão ou
razão sem ela.
Amar eu não sei definir...
É como viver e fingir
que no mundo não
há mais nada.
Amar dói na alma,
amar tira a calma,
amar tira a
fome e o sono.
(Ótimo para quem quer perder alguns quilos, e também alguns anos).
Amar é viver
fora dos planos,
é viver sem planos,
é só querer estar perto,
e quando perto ser um só,
e ainda mais
o que eu não sei.
Só sei que amo...
com os olhos,
com as mãos,
com meus pés.
E sem razão!
Amo de dia,
de noite,
e pela madrugada.
Amo certo de uma
maneira errada.
Amo pelo direito
e pelo esquerdo.
E no centro... também amo.
Amo por certeza e amo por engano.
Amo de tanto jeito.
Na rua, no chuveiro,
No passeio e na cama.
E quando penso em mim
vejo minha amada.
E quando eu de mim quero,
é minha amada que desejo.
E tua voz me acalanta
e teu chamado me acorda.
E não quero rimas das palavras.
Pois amar não deve rimar com nada.
Amar é só amar...
Amar de graça pela alegria e pela desgraça.
Amor coisa tola coisa de bobo
sem graça.
E tudo que quero é amar sem freio.
Um filme sem enredo, colorido em preto-branco.
E amar sem glorias nem mistério.
Sem sul nem norte,
sem riqueza nem sorte.
Amar... amar... amar...
Amar demais, mais da conta.
E quando do amor já não
puder mais meu corpo,
quero morto...
amar pela alma !



São Vicente
08/09/06 – 23:37h
Ricardo Rossi
(e eu só queria escrever uma carta de amor!)

Conte-me uma história de amor

Alguém, por favor,
conte-me uma história de amor.
De mentiras ou verdadeiro,
só metade ou por inteiro,
um amor covarde sem sorte,
ou um amor destemido e heróico...
Conte-me uma história de amor.
De um amor guerreiro em batalhas
de beijos no lençol da cama,
de um amor desventurado
cheio de beijos na lama.
Um amor verdadeiro que alem da vida,
ame tambem na morte,
um amor sem sossego e sem trégua,
Um amor em paz ou amor na guerra,
um amor sem refugio.
Um amor limpo ou sujo,
verdadeiro ou enganado,
inteiro ou despedaçado,
mas que seja por decência, amor na essência.
Conta-me uma história,
de um amor sem gloria que eterno seja.
Ou um amor que se perdeu no próprio amor...
Não sei , não conheço...
Por favor, conte-me uma história de amor.

S.C.Sul 01/08/2010 11:15h

Ricardo Rossi

AMOR CANINO

Amor correto, amor perfeito,
incondicionalmente amor canino.
Amor sem dor, amor sem trégua
amor animal perfeito irracional.
Amor que ama não mente não engana,
amor sem desejo de corpo e beijo.
Amor canino ao acaso sem destino
amor venturoso...bem melhor seria roer um osso!



Para Hany – uma linda cadelinha

Ricardo Rossi   S.C.Sul 2003

MANHÃ

Quando o dia chegou minha amada,
olhei o teu corpo adormecido.
Da vida só tinha o respirar manso.
Tua face serena, o emaranhado dos teus cabelos.
Em volta tudo era silêncio...
Desejei a ti, mas não ousei quebrar a imagem plena.
Tua pele branca de cera,
o lençol te cobria com mínimo pudor,
tudo em volta era silêncio...
Senti do corpo, teu calor.
Imagem bela, diante da minha angústia.
Quis fugir para não perder dos meus olhos...
o instante em que tu foste,
a forma perfeita !

S.C.Sul 1991

Ricardo Rossi

DOIS CAMINHOS

Em tudo que vivi na vida,
encontrei sempre dois caminhos !!!
Mas qual é o caminho???

Ricardo Rossi

( sem local e sem data )

LADO DE DENTRO

Aqui eu posso até berrar !
Ninguém me escutará do lado de fora.
Posso até amar!
Ninguém saberá do lado de fora.
Posso sofrer e chorar !
Rir e até cantar !
Ninguém me escutará do lado de fora.
Posso falar a minha verdade ...
Ser fiel aos meus sentimentos !
Pois ninguém me saberá do lado de fora!!!

Ricardo Rossi
( não sei quando nem onde )

FILME

E fui pensar em ti,
nesta hora improvável
nesta cidade estranha
de ruídos tão distantes.
E fui te buscar no
sorriso da lembrança,
deitado neste largo colchão
de vasta solidão.
Porque teu nome se
prendeu nas portas do passado,
e meus sonhos de hoje,
são filmes solitários
que assisto a cada noite dormindo,
e carrego por todo o dia acordado !

Cajati
17/06/06 – 00:40h
Ricardo Rossi

Não sou mais criança

Eu só queria chorar
como uma criança chora,
de perder o fôlego.
Mas já não posso.
Fiquei velho e meus sentimentos estão encruados.
Meus olhos estão mofados,
e meu peito esta ressequido.
A vida me veio em ondas, matou minha inocência.
Meus pés estão velhos, minhas mãos ficaram pesadas.
Meu olhar apenas mareja, um nó em mim se aperta.
Mas não choro...
A vida levou de mim os puros sentimentos,
não sou mais criança... não sei mais chorar!


S.C.Sul 01/08/2010 10:00h

Ricardo Rossi

TUA BOCA

A ausência da tua boca me machuca,
é longa a saudade e a vida é curta.
São teus olhos em mim
a luz...a claridade,
e meu viver sem ti
uma escura liberdade.
Liberdade que não quero,
e desconsidero de minha vida
os dias em que tu fostes
só a saudade.
A ausência de tua boca me machuca.

São Paulo
05/2006
Ricardo Rossi

DESALENTO

Este mundo está frio!
E todas as mulheres estão loucas.
E todos os homens estão vazios.
E todas as vozes estão roucas.
Os navios partiram
para o mar alto.
Pássaros migraram
para além do horizonte.
As águas perderam-se das fontes,
e nada neste mundo faz sentido!

Cajati
11/07/06 – 22:25h
Ricardo Rossi

METRÔ

Olhar moreno...raios difusos,
olhar moreno...furor oblíquo.
olhar moreno...atol perdido.
olhar perdido no oceano de olhares,
olhares em um mar cheio.
Almas...olhares flutuantes,
ao redor é sonho
e no meio...desesperança.
Olhar moreno, triste, solitário
perdido no oceano,
solto em um trem cheio de olhares solitários.

São Paulo
25/05/06 – 18:59h
Ricardo Rossi

PINTANDO A VIDA

Pinta com as cores
que traz no coração
o céu, o mar,
a flor e a emoção.

pinta com as cores
que traz na alma,
o mundo, a vida e o que reserva
a linha da tua palma.

pinta com as cores
que traz no olhar
a amizade, o afeto
e o desejo de sonhar.

pinta com as cores
que traz no teu amor,
tudo o que a vida te entrega
neste imenso painel,
que nasce aos teus pés
e vai ao infinito...mais longe ainda,
e com tuas cores tudo...
infinitamente...se ilumina !

São Paulo
15/12/06 - 06h:57 min
Ricardo Rossi

QUANDO O TEMPO PASSAR

Creio eu, que 45 anos após minha morte,
o mundo não lembrará
nem da minha sina,
nem da minha sorte.

Serei talvez?
Um anjo tocando lira,
ou no inferno
gritando minha ira.

Talvez seja eterno?
Ou quem sabe um pequeno tempo,
Até que em mim nasça o arrependimento,
Do que fiz bem feito ou do que fiz pecado.

E aí quem sabe?
Deus me sentencie de novo
a carregar pela vida
outro corpo cansado.

Santos
17/11/04- (45º aniversário de morte de Heitor Villa-Lobos)
Ricardo Rossi