sábado, 31 de julho de 2010

PENSAMENTO SOLTO

Há que tudo na vida está preso.
Meu olhar está preso,
minha alma está presa,
minha palavra está presa,
minhas pernas querem me levar
mas não posso ir.
O vento me chama
a luz me quer,
tua voz me inflama...
E nada posso,
tudo está preso.
Meu tempo está preso
no relógio que já parou.
Minha vida está presa
em um tempo que já não lembro?
Tudo está preso.
Apenas meus pensamentos estão soltos!
E viajo no meu corpo imóvel
de um tempo a outro, que ainda não veio,
vou deste a outro lugar, que ainda não conheço.
E mesmo estático, imóvel e inanimado,
minha alma, meu pensamento e meu coração
Como velhos amigos, vagueiam !

São Vicente
16/11/05
Ricardo Rossi

NEM TANTO

Tem dias que amanheço feliz
em outros, nem tanto.
Tem dias que acordo triste
em outros, nem tanto.

Que me importa...
o Sol vai a pino lá fora
e o mundo segue seu destino.
E aqui dentro eu apenas me imagino.

Tem dias que sou rei
e outros, nem tanto.
Tem dias que sou ninguém
e outro, nem tanto.

Mas indiferente ao dia
Que se muito ou nem tanto,
Segue a minha vida
Com todos seus encantos.

Santos
30/10/05
Ricardo Rossi / Ligia Cerri

OLHAR

Miras o mar...
Mais longe,
na linha limite
do horizonte,
na linha que se vai... mais longe.
Ao infinito se sente
e se dá ao olhar.
Miras o céu...
Mais longe,
não há mais horizonte
nem linha que limite,
nem nada a que o olhar se prende.
Miras o nada...
Mais longe
e te libertes do próprio olhar!

São Vicente
29/06/05
Ricardo Rossi

CHOVEU

Choveu na madrugada.
Gotas de água que
em minha janela caiam,
cantaram sua líquida melodia.
Acordei sem espanto,
para deixar-me dormir no acalanto,
da chuva que chovia.

São Vicente
29/06/05
Ricardo Rossi

TEMPO

Agora meus sentidos estão em paz,
meu olhar não agita a expressão.
Sou parte da mobília
integrado na perfeita harmonia
do silêncio, silêncio apenas...silêncio.
Tudo estático diante do futuro.
Futuro que me chega a cada segundo,
como um presente do tempo
a subtrair meu tempo,
a passar sob mim a
roda continua e eterna do tempo.
Mas em volta tudo é silêncio,
e o tempo passa, solenemente em silêncio,
como uma procissão infinita de
fragmentos invisíveis da vida
que passam, solenemente, em silêncio.

São Vicente
11/07/05
Ricardo Rossi

Verdades e mentiras

Agora que o silencio e o mais fiel amigo,
e que o olhar se contenta em nada,
agora que os ponteiros não fazem sentido,
e as palavras emudeceram.

Não quero o teu calor... me basta o meu!
Não sonho o que não foi... me basta o que vivi!
Não busco as lembranças ... me contento com o presente!
E já não choro , nem tenho outras dores.

Agora o mar é calmo e a noite dorme em silencio,
e o mundo e exato em todas as coisas,
agora nada tem mistério e tudo se sabe com os olhos,
e tudo perpetua no âmago de si mesmo.

Não direi palavras ternas, nem sonharei o amanhã.
Não buscarei o encontro, tão pouco a despedida.
Não velarei sonos, nem sonhos.
Somente o silencio esta comigo.

Despi-me do personagem de mim mesmo,
Perdi o discurso e o sentido do discurso,
Palavras se perdem no tempo...
E guardamos para o eterno, todo o vazio!



Ricardo Rossi 03/03/2010 16:30h

( menti para mim mesmo, estes não eram os meus verdadeiros sentimentos )

De bate pronto para você! ( EMILE )

Coleto dos sonhos o que cabe em minhas mãos.
Sigo um caminho onde vejo luz, as vezes me perco,
e retomo o caminho com a calma de quem já muitas vezes se perdeu,
sei que muitos desejos não os realizarei!
não importa, continuarei tendo desejos e sonhos!

Não mais sonhar é triste, não sonhar nos torna vazios.
Ainda que seja distante a meta , não nos perderemos,
seguimos com a cabeça erguida e um semblante calmo.
E sabemos o caminho e conhecemos nossos sonhos.

E a vida nos ensina que sonhar e o primeiro passo para a conquista.

Ricardo Rossi ( teu pai ) 2 de Dezembro de 2009, 17:53h
beijos

PEDRAS

Haverá antes, que amar as pedras,
na sua aspereza, na sua dureza
de pedras, na natureza das pedras
sem no entanto querer que sejam
mais do que pedras.
Sentir as formas de pedras.
E saber que não há formas!
E saber que não há pedras!
E saber amar as pedras.
E não querer para si as pedras.
E ir-se embora deixando as pedras.
E amar ao que se ama
E nada querer além de amar...
Sem mais nada.
Sem mais do que a lembrança,
de quem um dia, amou as pedras.

Registro
06/07/05
Ricardo Rossi

PERDIDO EM SENTIMENTOS

Existe em mim um sentido,
que baila entre a vida e a morte.
E quando de mim me vejo perdido,
brinco com a minha própria sorte.

Quando em olhos estranhos me vejo,
dos meus sonhos perco os sentidos,
e busco uma nova prima-vera,
a me dar um amor que pensei perdido.

Se pelo caminho encontro uma flor,
lhe dedico meu puro pensamento,
se encontro uma mulher como uma flor
lhe dedico a tristeza de meu amor.

É triste o meu olhar que segue adiante,
alem do meu momento... o meu olhar alcança,
sobre meus pés vivo o presente,
e nas dores que em meu peito habita, vivem todas as lembranças...

Sou aquele que no amor entende a razão
e da razão sem amor, nada entende meu olhar.
Sou aquele que entrega o coração,
e sem razão entrego ainda, o que minha alma encanta.

Meu viver esta presente
e presente em mim,vivem as lembranças,
sou quem vive ontem no agora,
e no agora de mim eu estou ausente.

Não conto em meses ou dias...
mas os minutos da tua falta.
Me deixo aos pensamentos...
perdido em nossa história.


S. Paulo 09 agosto de 2007


Ricardo Rossi

Esse tipo de saudade também me dói !
Linda poesia !
Grande beijo, de sua filha Emile !

JANELA

Melhor é o destino de uma janela,
que vive a vida de janela, a contemplar
tudo que se vê, através do olhar da janela,
sem emoção e nem assombros...
apenas o que sente quando se é janela.
E o que se vê de um lado ao outro
e de outro a um lado,
de dentro e fora e dentro de novo,
da linha que divide a janela
não em uma, mas em duas janelas,
e entender a linha, que são as próprias duas
Uma só janela.

Registro
06/07/05
Ricardo Rossi

Só mentiras conheço ( quando te vejo )

Não conheço a medida certa,
O sentido exato.
O tempo justo.
O valor correto.

Não conheço o que é perfeito,
O amor contente.
O sorriso puro.
A palavra certa.

Não conheço o que é descente,
A atitude franca.
A verdade branca.
O olhar sincero.

Só mentiras conheço!!!

S.C. Sul 31/07/2010 20:53h

Ricardo Rossi

(para uma mulher feita de mentiras)

MEDITAÇÃO

I
Nada mais me aguarda...
Não há versos nem sonhos,
nem temores temporais.
A angústia será eterna?
Meu castigo é meu verso?
Além do meu corpo,
minh’alma me segue...
nesta luta que se lança ao eterno.
Nada mais...me aguarda,
além do meu olhar perdido!!!

II
Mas o tempo passa sempre...
indiferente ao sentido e ao silêncio.
Não vale a pena dormir,
não vale a pena sofrer,
nem ferir, nem chorar...
nem ter mágoas ou amores tempestivos.
Uma criança chora em um jardim!
Um homem enfileira tijolos!
Uma flor se despetala ao vento!
Uma velha mulher reza o terço!
E o tempo...passa indiferente!!!

III
Mais longe que o infinito,
ainda sinto um silêncio e um grito.
Plantei neste jardim de sonhos
um ramo de esperança,
um canteiro de amores,
uma penca de desejos
e os guardei no meu silêncio.
O meu silêncio é mais triste
e minha tristeza...é mais solene!!!

IV
Nesta noite te desejo!
e ainda é longe o tempo...
Um tempo que se esconde,
em um jardim que não conheço,
em um jardim que não tem flores.
Um jardim vazio qual deserto
onde deixei esquecido,
meu tempo ...e meu verso!!!

Registro
05/07/05 – 22h:35
Ricardo Rossi

SÓ ISTO

Existe uma cama me esperando,
uma geladeira gelando,
meu coração galopando,
e um vento noroeste (impiedosamente) soprando.

São Vicente
16/07/05 – 22h:20
Ricardo Rossi
( o vento nesta noite quase arrancou minha janela )

CORAÇÃO CEGO

Trago aqui em mim,
neste peito um coração que anda cego.
Ele ama quem não deve,
ele no amor seu e único me leva.
Leva em seu caminho torto,
caminho que me leva
ao amor que me deixa,
aqui esquecido
ao pé da vida.

São Vicente
18/07/05
Ricardo Rossi

RELÓGIOS

Tenho em minha casa
vários relógios,
e cada um marca um tempo,
viajo ao futuro ou ao passado
dependendo do aposento
onde eu me deixe abandonado.

São Vicente
18/07/05
Ricardo Rossi

NATURAL

Ninguém deve ser feliz!
Nem ao menos triste!
Sejamos simples como uma pedra.
Sejamos tristes felizmente.
Sejamos felizes tristemente.
tão natural como uma nascente.

São Vicente
12/07/05
Ricardo Rossi

Dize-me

Dize-me: o que vive em teu coração?
Eu aqui sentindo esta saudade...estou só.
Somente com as minhas lembranças,
nossas mãos...
Tenho-te em mim, assim como um só
quando estas perto,
Infinitamente em mim
quando estas perto.
Nunca te afastes...amada,
viva em mim como um sonho.
O meu amor é fiel e minha lembrança é tua.

São Vicente
18/07/05
Ricardo Rossi

QUIETO

Fico aqui quieto, ao pé da vida.
Não vi o poente d’ontem
não busquei a aurora de hoje.
Fiquei quieto, ao pé da vida.
Apenas quieto, sem assombros
como quem nada mais deseja.
Sem assombros nem saudades,
apenas quieto ...quieto.
No meu olhar nada dói,
e penso tudo, para não ter pensamentos.
O espelho só mostra a outra sala,
que não é a sala que me tem,
é a sala inversa do inverso eu.
E ele (eu inverso) está apenas...quieto.

São Vicente
11/07/05
Ricardo Rossi

QUE A BRISA LEVA

Não sou poeta,
sou apenas a caneta
que espalha no papel
em tinta os sentimentos.

Não sou a caneta,
não sou o papel,
sou apenas a brisa
que o papel leva.

Não sou a brisa
que o papel leva,
não sou a caneta,
nem os sentimentos.

Sou apenas o que desconheço,
a escrever no papel com a caneta
os sentimentos, que a brisa leva.

São Vicente
11/07/05
Ricardo Rossi

BRISA

Foi leve a brisa da vida dada.
Na busca, deixo eu, tudo e nada.
Pétalas e pedras ali ficaram,
e ali se deixaram como esquecidas,
e pétalas e pedras foram a vida,
de um mesmo sentido...
Para quem tudo soube,
para quem não soube nada.

São Vicente
23/07/05
Ricardo Rossi

Agora te amo no silencio

Agora te amo no silencio,
um profundo silencio minha boca cala,
mas minha alma grita e transgride meus sentimentos,
Mas agora te amo em silencio.
Minhas horas são tuas horas em meus pensamentos,
tu partiste de minha história,
Ou nunca dela participara.
E meu amor ficou solitário...
No filme branco-preto vejo o passado.
Agora te amo em silencio,
e tu já não existe em mim, de ti não faço parte.
Matemos nossa história!
Matemos as horas em que juntos vivemos!
Mas o amor não morre... aprende a amar em silencio.
Agora te amo em silencio.

S.C.Sul 31/07/2010 11:15h

Ricardo Rossi


http://letras.terra.com.br/carlos-gonzaga/1043092/

inverso de um só


São dois paineis, um não tem razão sem o outro.
a quem dei , não creio que alcançou o sentido.
serve apenas de enfeite, do chão ou parede.
um dia eu sei... serão jogados fora.

DUAS VIDAS ( REPARAÇÃO " DÉBORA" )

pintado eu creio em 2005 em São Vicente, doei e não sei por onde anda...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010


DIANTE D - 30/01/09



QUADRO: DUAS VIDAS - RICARDO ROSSI


E mais uma vez conversando sobre música, falávamos sobre músicas com nomes próprios como: Ana Júlia, Carla, Juliana etc... e comentei que eu amo o meu nome Débora, por ser um nome forte, marcante, porém muito difícil de ser rimado e que só conhecia uma música com meu nome (Flagra – Rita Lee)... No escurinho do cinema, chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz...Se a Deborah Kerr, Que o Gregory Peck..., mais que era realmente difícil encontrar meu nome em alguma poesia ou canção e teria que me contentar com essa música eternamente como expressão de Arte demonstrando o meu nome.

Eis que fomos para praia, nadamos muito, brincamos, corremos...mas o Ricardo não entrou na água, ficou só observando.

No outro dia repetimos o feito de ir a praia e ele não quis nem sair do apartamento.

Quando voltamos esfomeados, com tanta energia gasta com a agitação do mar.

Ele me mostrou o poema abaixo e meus olhos se encheram de lágrimas, não sabia como agradecer.

Ainda por cima ganhei esse quadro (que desde que chegou em casa nunca saiu da cabeceira da minha cama) que ele havia pintado bêbado chamado: Duas Vidas, e que representa muitas coisas na minha vida, principalmente a lembrança daquele final de semana que jamais vou esquecer.

Já se passaram mais de quatro anos e agora chegou à hora de agradecer singelamente tudo que você me deu (Arte Pura), postando aqui em meu blog a profunda admiração que tenho por ti e por sua história de vida. Meu simples, muito obrigada Ricardo.

Débora Cristina Vasconcelos





DIANTE D


Diante da perplexidade de um “D”
Fui ao encontro do antes de vir se-a-ser
E não fomos mais que criança.
E não fomos mais que as palavras, guardadas no silêncio.
Meus olhos te buscaram...
E te vi fundir-se as águas de um mar sem fim
No escuro d’água e de um céu sem estrelas
E te vi mulher...e te quis menina...e te fiz criança
Um peixinho, que pelo mar da alma em um peito solitário,
Deixou n’água um rastro, testemunha do que vívido, agitava.
E de um “D” perplexo... Débora gritei teu nome.
E minha voz não foi além de um silêncio
E meus olhos, não foi mais que alegria, de ter na vida te encontrado.
E assim perplexo pelo “D” deixado, ao cruzarmos a ponte desta vida.
Em “D”, Débora...este meu canto, te dedico!

Ricardo Rossi

São Vicente, 22/01/2006 – 11:27h

AUTO-RETRATO ( não da imagem, só do vago sentido )

não sei a expressão , apenas me lembro do sentimento.
tenho por dadiva ou castigo,
em minha memória nada fica perdido,
tudo vive presente!

SONHEI APENAS

Fico perdido na dor que imagino
e de mim eu em mim me esqueço,
sou eu apenas com você presente.
Mas a dor não existe!

Sou eu apenas , no vago olhar,
que horizonte contempla.
E não estas no horizonte de agora
teu ser de mim distante, horizonte vazio.

Partiste antes da chegada,
e nesta hora solitária, tua sombra não vejo.
E já não é dor a dor que penso.

Tu já não existe, sonhei apenas...
E fiz da vida o sonho desperto,
tu e eu não existimos... sonhei apenas.

S.C.Sul 31/07/2010 09:34h
Ricardo Rossi

Gosto quando te calas ( Pablo Neruda )

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

Sentimento do mundo (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 30 de julho de 2010

AMOS

( ao meu avô materno )

Eram duas mãos dadas,
seguindo juntas na vida.
Uma velha e enrugada
outra pequena e com o viço da infância.

Juntas na caminhada,
unidas no sentimento,
separadas pelo tempo.

Fui teu neto
fostes meu nono.
Fostes o reflexo onde
espelhei meu futuro.

Partistes um dia
para uma viagem sem volta,
uma eterna viagem.

Hoje minha mão distante da sua,
hoje meus olhos não refletem tua imagem,
hoje meu coração sentiu tua falta.

São Vicente
15/01/06 – 14h:00
Ricardo Rossi

NOTURNO

Agora que a noite chegou, amiga,
Coloque tuas mãos ternas sobre meu peito,
Pergunta-me se te amo ainda como ontem,
Mas não me deixe expressar palavras,
Faça-me beijar suave, tua pele serena...
Crie um brilho em teus olhos,
Existentes somente nas pérolas das profundezas.
Faça-me jurar que te amo
Mas não me deixe expressar palavras.
Aperte meu corpo de encontro aos teus seios,
Arranque de minha garganta os mais doces gemidos.
Faça-me cair de joelhos beijando-te o ventre.
Amada, deite-se nua na relva umida da madrugada,
e Leve-me contigo.
Entrelace tuas pernas entre as minhas
Leve-me ao mergulho nas profundezas
até que meu peito rompa,
Pergunte-me se te amo
Mas sele a palavra de minha boca
Com teus beijos.
Crie em mim a agonia de um náufrago
Na prancha a deriva no oceano.
Leve-me aos limites da loucura,
Guiado pelas tuas mãos ,
E traga-me de volta à luz...
Faça-me explodir em êxtase contigo,
E depois de tudo, que é mistério da paixão,
Faça-me contemplar junto de ti,
a madrugada em silêncio.

(não sei onde, mas foi em 1998)
Ricardo Rossi

Sem mistério

Te amo tanto meu amor,
te amo com uma dor já sem mistério,
e meu amor em ti é tudo e é nada,
é tudo o que eu quero.
E te amo escravo da paixão e desejo,
mas te amo na liberdade
que só encontro no teu beijo.
Te amo na presença
e te amo na lembrança.
Meu amar é a dor que não sossega,
é a dor que não cansa.
Ele é tão infinito
que vive num plano
que só a alma sente.
Eu te esqueceria se fostes
só uma mulher em minha vida,
mas não posso.
És em mim um amor passado,
és o amor presente,
és o futuro do amor que aguardo,
e tu não estás comigo.
Nesta hora que vivo solitário
brinco com tuas lembranças
que em minha saudade mora,
e brinco com as lembranças
porque sem elas...
minha alma chora !

São Paulo
18/08/06 – 12:26h
Ricardo Rossi

Navio à deriva

Sou um navio à deriva
no oceano de mim mesmo.
E sou eu que em mim habita.
Sou eu que em mim se agita,
e conflita como tudo
que em mim sente.
São meus os sentidos tristes
e contentes.
Desordem em ordem de mim
se faz presente.
E já não faço sonhos.
Meu tempo não vai
alem do horizonte
que em meu olhar sente.
E não tenho medo do futuro,
e não guardo tristezas do passado,
minhas dores estão presentes,
e não beijo a boca do presente.
Me deixo leve,
e de mim ausente
sem nada querer.
E se cumpro os ritos
de meu corpo vivo,
é porque nele ainda habito.
Não tive sonhos nesta noite.
Meus olhos despertaram
antes que meu coração,
e fitaram o teto do quarto
da casa que não é minha.
E nada tenho de meu...nem esperança.
E as lembranças vieram
bailar em minha memória,
e dançaram os fantasmas vivos
da minha história.
E do meu olhar não brotou a nascente
da água salobra,
nem chorou minha alma.
E no teto do quarto
da casa que não é minha,
não vi minhas tristezas.
As horas seguiram
indecentes...impiedosas...
Seguiram de encontro ao poente,
poente onde minha alma mora !

São Vicente
02/09/06 – 09:09h
Ricardo Rossi

FERNADO PESSOA

Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando dispertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são

Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida.


Fernando Pessoa, 28-9-1933.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Traducere ( Ricardo Rossi )

Traducere minh'alma.
Meu corpo já cansado,
meu olhar mais triste ainda.
Traducere minh'alma.
Porque já não posso
já não tenho mais vontades.
Traducere minh'alma.
E me deixe onde
do ceu me proteja.
Traducere minh'alma.

Cajati
10/08/06 – 20:11h
Ricardo Rossi

significato etimologico di origine latina al suo traducere (trasportare, composto di trans 'al di la' e ducere 'condurre')

Pelas ruas molhadas

Pelas ruas molhadas caminhei na noite branca.
nas águas das ruas deixei minhas cicatrizes.
E os rebeldes anjos não mamaram a Via Láctea,
se perderam a contemplar bundas femininas.
E os sinos mudos gritaram aleluias para o Deus solitário.
O mar vazou inclemente deixando em um deserto de mar ausente,
todos os peixes esquecidos.
E as águas das ruas inúteis lavaram minhas cicatrizes.
Padres e velhas mulheres de mantos escuros seguiram na romaria,
Flores chorosas da madrugada molharam as ruas frias.
E não veio o verbo!
O tempo se perdia,
Se perdeu os temores,
E as horas que eu queria.
Se perdeu o relógio que ao seu tempo a tudo assistia.
A chuva foi gentil lavando meu olhar molhado.
A rua era lenta e em mil passos apressados encontrei meu destino.
Mas onde meu coração ficou?
Perdido na escuridão?
Atrás de uma porta, pregado?
Na busca de um sonho vão?
Ou pelo mundo desesperado?
E o que já importa a dor?
Se de tanto doer,
já se tornou em meu peito cativa!

Cajati
09/07/06 – 22:40h
Ricardo Rossi

Teu gesto me falta

Teu gesto me falta nesta hora.
Tua fala, teu silêncio imprevisto.
Fico vazio em meu olhar,
nada ouço pois me falta a palavra...
me falta a alegria,
me falta você
e tudo fica vazio...
Teu gesto me falta nesta hora!

Cajati
09/08/06 – 19:59h
Ricardo Rossi

Sentir saudades

Tenho saudades de sentir saudades.
nesta noite fria e chuvarenta,
me penso entre rosas sem pétalas
um jardim da noite em trevas,
lambida pela língua fria do vento,
navalha de corte cego
que dilacera a carne como cimento.
No jardim de tristes flores e vento
já me vejo sem pensamentos.
O vento nada me lembra.
E a noite não me comove
nas lembranças de outrora.
Do céu negro de ébano,
caem lágrimas de um céu que chora.
Já não tenho mais lembranças.
E não sonho mais nada.
Apenas tenho saudades de
sentir saudades!

Cajati
31/07/06 – 21:01h
Ricardo Rossi

terça-feira, 27 de julho de 2010

BAILARINA

Recriei teu nome amada,
te vesti de água
e te penteei de vento,
te levei ao campo dos meus sonhos
e te fiz única...
bailarina triste
a dançar no vento,
a recolher nas cores os
fragmentos da minha poesia...
porque viestes um pouco a cada dia
em formas jamais sonhadas.
És a flor...és mulher...és a dor.
E eu, teu lírico cantor.
teu pássaro sem asas.
E meu canto triste se espalha
ao vento onde tu bailas.
E levas em tuas mãos esguias
todos os sentidos que me assombram,
porque és tu a bailarina do vento
e teus passos caminham ao infinito,
na tênue linha que divide
a sombra e a claridade.
Bailarina triste de um
pássaro sem asas.
E meus olhos não te alcançaram,
no teu bailar ligeiro.
E meu canto não chegou
a tua alma.
Pois viajavas em rítmicos passos
para além do campo de meus sonhos.
Deixando gravada na minha lembrança,
a forma feminina...
da minha mais triste saudade.

São Vicente
04/12/05 – 11h:38min
Ricardo Rossi

CANSADO

Eu tive um sonho que guardei
e não sei onde.
Eu tive um sonho que sonhei
quando hoje era ontem.
E já não sei que sonho
sonhei hoje.
Não desejo mais sonhar...
E ficaram meus olhos sem flores.
Nem anjos brancos,
nem negros anjos voltaram...
ficou seco o céu do azul solitário.
Eu tive um sonho que
já não dizia esperança.
Eu tive um sonho que
sonhei quando criança.
Agora estou cansado!

Cajati
11/07/06
Ricardo Rossi

ENCONTRO NA DESPEDIDA

E já não eras o sonho,
não eras a saudade...
Realidade agora te tornaste,
me envolveu o olhar...
se fez presente,
realidade em minha alma!
Mulher...fonte do amor delirante,
foste minha no olhar.
Te colhi agora presente da lembrança,
lembrança presente do meu sonhar acordado.
Tua voz, o teu sorriso
me elevava...flutuava...
eu flutuava na tua presença,
teu gesto exato, tua displicência
tua languidez,
emanava de ti o aroma,
emanava de ti a melodia constante.
Tudo envolto na paixão delirante
e te alcancei no exato instante...
em que tu já eras a despedida!

São Paulo
17/06/06 – 22h:10 min
Ricardo Rossi

SAL DAS SOMBRAS ( Ricardo Rossi )

O sal agora se esconde
nas sombras do sol de ontem.
as palavras tornaram-se melodias passadas,
que prendi em um vau da vida e deixei guardadas...
ecos da lembrança.
Sombras difusas morreram no sol de ontem,
Sem tristezas e nem dores.
as flores morreram no sol de ontem
e deixaram penduradas,
no céu de sol...
no ar de sal...
as cores da lembrança!

São Vicente
27/05/07 – 07:45h
Ricardo Rossi

FIM DE JOGO

Só os bêbados nos copos
qual anjos barrocos
de uma catedral morta.
São os copos e os corpos
nos corpos de copos
nas trincas vazando o sangue
qual elefante do circo
que não veio
e o tempo desgasta
toda a matéria que
cobre o corpo da sereia
na noite de tempestade.
Só a metade do tomate
é que conhece a metade
do tomate, nunca o tomate todo
a queimar minha alma na lembrança
viva da infância
um pai de mão dada à mãe de
mão na mão paterna.
Chovia na tarde ensolarada
e pétalas de margaridas teclavam
um piano insonoro da idéia de
um menino que passou pelo tempo
todo menino que dantes fosse um
homem que via no balcão
fosco e dentro os copos com
corpos bêbados mergulhados nos
copos bêbados.

II
Não ouvia a sua voz no telefone.
Cantava músicas qual um tambor
repentino, da orquestra que aguardava
a batuta espantada do morto maestro
que regia a fúnebre sinfonia do
motor aceso para o lampejo do
vagalume que passou a gloria das
estrelas da constelação sem nome
nem sobrenome e de um céu sem
morada a arrastar no tempo um
súbito silvo de guarda que orquestrava
a avenida qual dança clássica
selvagem do homem que colhia
as melancias da vida e um outro
que passava para amolar facas cegas
sem bengalas e cão de guia na
serenata eterna que só Deus regia.

III
Da rua veio o grito que entrou no
banheiro e não viu o chuveiro que
quente todo chovia dentro para a inversa
nascente do ralo que bebia o líquido
espumoso e perfumado que corria
na tempestade da vida que chegava
pelo jornal nunca lido e passava
pelo vento qual viva folha escrita
pássaro letreiro que levou todas
as formigas a roeram o velho
armário onde avô e avó guardavam
seu dinheiro de sonho que enrugado
ficou na teia empoeirada do tempo
dormido em uma clara madrugada
sem estrelas pedintes que mendigavam
um olhar apaixonado do cão cego
que seguia o rastro de um homem
abandonado no silêncio do
hospital onde freirinhas cantavam
uma música de Natal para o presente
que pedi só na metade e nada
recebi porque não veio velho vermelho
no sino que relampejava em um bornal
do caçador maldito que matara o último dragão
sem dar conta do placar
que indicava o fim do jogo.

São Vicente
18/07/05
Ricardo Rossi

sábado, 24 de julho de 2010

PEQUENO CANTICO DE AMOR

Te amo num plano infinito,
que o tempo não ousa tocar.
Te amo de um jeito discreto,
que a boca não ousa falar.
Te amo um amor tão louco,
que a mente não ousa pensar.
Meu amor por ti,
para mim é alimento,
é tudo o que busco
da vida neste momento.
Da alegria que me dá teu ser,
que me traz no teu olhar...um nada,
e nas mãos...o silêncio.
De tudo fica apenas amada,
este meu padecer,
amor ... saudade... mais nada!

Registro ( sem data )
Ricardo Rossi

TEMPO

Se me pego a ver o relógio,
Não entendo o tempo.
A cada volta passa a hora!
Mas em que volta passa a vida?

( não sei onde nem quando )

Ricardo Rossi

Olhar que sonha

Que o tempo não apague,
fique em mim como eterno fosse,
A luz é sombra que faz a forma
no olhar que sonha e toca.

Ficarei perdido no vale entre dois montes,
como quem busca o que não sabe...
até que a sombra finde o dia...
e deixe que uma nova luz traga a aurora.

Santos

Ricardo Rossi

CHAPÉU PANAMÁ

Teu nome carrega a bandeira
e um hino carrega tua origem.
Tua Pátria... tu em tantas pátrias!
Tua fibra única, sem equivalência.
Tua forma, teu jeito.
Tua capacidade de reter meus pensamentos.
Tua aba que mira além,
sombra que guarda.
Panamá nome de canal
ligação de águas
navio cruzando uma terra.
Tu que levas em teu bojo
minha razão,
Tu que sentes com desgosto,
minha emoção,
e no íntimo do que guardas...
Guarda minha solidão!
...chapéu panamá!

São Paulo

Ricardo Rossi

DAS LEMBRANÇAS

Nunca busquei ser
eu - das lembranças
do teu corpo, teu melhor amante.
Mas busquei ser
eu – das lembranças
da tua alma, teu melhor apaixonado.
Porque fiz em mim
um amor além da cama.
E te entreguei a
primavera do meu
peito outonal.
E te ergui a mais alta
E te colhi ... e me perdi
entre flores solitárias.
E chorei com dó das horas,
o tempo em que comigo não estavas!

São Vicente

Ricardo Rossi

Quem agora partiu

Do que me adianta
esta dor no peito
se já foi desfeito
o que da dor doía?

Do que me adianta
esse porre no copo
se já foi bebido
o que do copo bebia?

E essa saudade
de quem agora partiu...
partiu antes de chegar?

E do que me vale
esse amor para dar...
se o próprio amor, já não quer mais amar?

São Vicente.
Ricardo Rossi

DECOMPOSTO

Decomponho em mim
as notas de meu destino,
para recompor em mim
o que de mim imagino.

Desfaço o que era o eu.
Refaço o que de nada eu era.
Pedaços de mim se perderam!
Outros em mim se encontraram!

E se me vejo... não me reconheço.
Se me encontro...me disfarço!
Sigo ao meu lado,

Levo-me de mãos dadas a mim mesmo
Ao encontro do que eu sei...
um nada!

(não sei onde nem quando, mas o sentido esta presente.)

Ricardo Rossi

AMANTE SOMBRIA

Minha morte dormiu em minha cama nesta noite.
Foste minha amante intocada.
Acordastes comigo,
caminhastes comigo.
Em teu silêncio me aguardava.
Silente ao meu lado espreitava...
Me espere amante, amante me aguarde.
Ainda não é teu momento,
ainda não te cabe minha carne.
Segues ao meu lado, tranqüila, pois serei teu,
minha amante sombria.
Caminhemos juntos de encontro ao dia em que a ti me darei.
Minha querida amante fria.
No dia em que eu te caiba,
serei teu na cópula da agonia.
Minha carne penetrará na tua sombra fria.
Abraçarei teu vulto de escuro manto, sem outra alegria.
Serei teu na dor e no encanto deste amor em agonia
e no êxtase da dor e do cessar da vida,
no meu último instante,
como eterno amante,
te beijarei tua boca fria.

( foi criada em S. Vicente, porem não sei quando )

Ricardo Rossi

sexta-feira, 23 de julho de 2010

GUARDADOS ( Ricardo Rossi )

Guardo em mim um segredo
daquilo que me é mais caro na vida.
Guardo em mim um sonho
daquilo que mais amo e quero.

Guardo em mim um desejo
como quem guarda o sonho de uma criança,
como quem aguarda o dia que nasce,
como quem aguarda a vida que chega.

Guardo em mim um tesouro secreto
como quem guarda as estrelas,
como quem guarda as flores e a primavera,
como quem guarda um amor perfeito.

Guardo sonhos que perdi,
guardo amores que não tive,
guardo beijos não dados nem recebidos,
guardo gritos calados de uma boca entreaberta.

Guardo tudo o que não tive,
guardo tudo que não terei,
guardo preso no peito um suspiro que não dei,
de um amor em mim perdido ou amor que eu não sei...

Niterói 1998 ( profundamente triste.)

Ricardo Rossi

PRECE ( Ricardo Rossi )

Protegei todos os caminhos da amada.
Guardai os seus passos,
guardai em suas mãos seus sonhos.
Leve-a com todos os vossos cuidados.
Nas manhãs claras guardai,
nos meios dias alimentai,
nas tardes quentes animai,
nas noites frias confortai.
Senhor protegei-a pois a amo.
Protegei-a pois me é distante.
Guardai os seus caminhos pois desconheço
e sofro por não tê-la comigo.
Permita-me Senhor guardar seus sonhos,
dai-me a palavra para alegrar seu ser,
dai-me a paz de sabê-la feliz
pois é distante e eu tão fraco.
Ela me é distante e vós sabeis do amor que lhe guardo.
Ela é apenas meu sonho e meu desejo.
Protegei-a Senhor pois não posso,
protegei-a pois a mim não foi legado este dever
e vos peço, pelo que não posso... guardai Senhor a minha amada.


Niterói 1997
Ricardo Rossi
(no quarto à noite na solidão de mim mesmo)

Me dê sua mão ( Ricardo Rossi )

Me dê sua mão amada
vamos ao não sei,
sem pensar em nada,
sem o medo de amar,
que o amor estraga.

Me dê sua mão amada,
fiquemos juntos como um só.
Fiquemos só em silêncio,
deixemos nossos olhos cegos.

Sentimos só nossas mãos
Como uma só mão de dez dedos.
Não sentimos nossa mão
Fiquemos assim, só, em silêncio.

São Vicente
11/07/2005
Ricardo Rossi

NATAL DE 2005 ( Ricardo Rossi )

Só na data irreal
só na data Natal
só na sala fatal
só na sala irreal.
Só se fala só
quando um só se tem,
e nada abala
e nada maltrata além.
A um passo está o abismo
e se o passo recua,
fica o abismo adiante.
Vira e segue em frente,
para o passado,
não para o passo errado
nem ao passo não dado,
mas para o passo irreal
que não foi pensado.
Se outro passo atrás
há tempos fosse dado
seria eu, alguém em outro lado?
Seria outro eu, que não conheço
e que poderia encontrar no meio o começo?
Ser um eu... talvez, do meu agrado?

São Vicente
25/12/2005 – 00:03h
Ricardo Rossi

Inverso ( Ricardo Rossi )

Diverso em versos
construo meu universo,
que de mim é o inverso
e decompõe meu ser diverso,
para além entender o inverso
do que fiz um universo,
que possa ser expresso
em um simples verso !


São Vicente
12/07/2006 – 09:10h
Ricardo Rossi

ROSA DOS VENTOS

Eu queria amar a estrela do norte...
mas ela não veio.
Eu podia amar a estrela do sul...
mas ela não estava.
E neste fado do amor sem sorte,
fiz de minha cama um deserto sem oásis.
Levei pelas mãos o meu torto destino,
meus passos não queriam,
mas meu corpo caminhava,
e meu coração nada pensava.
Amei a estrela do norte,quis a estrela do sul.
Amei a estrela do sul,quis a estrela do norte.
Quantas segundas-feiras já vivi em minha vida?
Quantas quartas-feiras em minha história viveram?
O tempo é o senhor absoluto dos sentidos!
Tudo que me corta a alma nesta manhã,
amanhã ou em outro tempo,
será apenas o eco de um gemido.
Minha imagem não se fixou no espelho,
partiu, e deixou o espelho vazio.
A casa vazia guarda seus fantasmas,
e as janelas não dizem nada,
assistem passar a vida... e a vida passa...
Assim vieram outros fantasmas habitar a casa.
Ficaram as histórias e fotos desveladas,
pregadas na lembrança ou perdidas na memória...
O relógio a tudo assistia!
Um corpo de mulher nua bailou em minha sala,
um corpo nu de mulher bailou em minha vida.
Outros nus corpos bailaram em minha alma.
Mas os corpos nus não bailaram em minha memória.
Perdi alguns tesouros, outros joguei fora!
Nada desejo além dos sapatos.
Um som de realejo fantasma,
cruzou em minha história.
Periquito abre gaiola e puxa envelope,
entrega em tuas mãos o destino.
Pagas pelo destino todo, somente algumas moedas.
Teu tempo segue continuo,
não há futuro, nem tivestes passado...
teu tempo está presente,
tua sorte é o envelope dado pelo periquito!
Quem sabe se a leste ou oeste eu mirar minha vida... quem sabe?
Amei a estrela do norte, quis a estrela do sul.
Amei a estrela do sul, quis a estrela do norte...
E minha bússola quebrou-se!

São Vicente
09/01/2006 – 08h:00
Ricardo Rossi

DESTINO ERRADO

Deve haver mais que amor...
Existir talvez um sentido...
Ser aquele que a vida criou com uma razão
Talvez seja este o real propósito
Ir até onde a vida cabe.
Não sei qual a razão
Ostento esta chama no peito
Estendo a mão ao encontro
Razão... destino, não sei...
Razão... qual razão há na vida?
A vida segue seu caminho...
Devo seguir o caminho que a vida dá
O coração é apenas quem me engana.

São Vicente
16/07/2005
(bêbado pra caralho)

nada a pensar

Nada tenho a pensar...
além da parede
a minha frente.
E se na parede me vejo,
sou a sombra de mim mesmo.
Sombra viva que pensa a sua vontade.
Que só na luz existe
e que quando sem luz...
a tudo se liga.
Minha sombra sem a luz que lhe dá vida
em tudo cabe.
E tudo sombra minha no escuro é.
E eu na sombra escura... sou nada.

São Vicente
25/12/02005 – 00:20h
Ricardo Rossi

O Mergulhador ( Vinicíus de Moraes )

"E il naufragar m'è dolce in questo mare". Leopardi



Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos
No líquido luar tateiam a coisa a vir
Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos
Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti.

És a princípio doce plasma submarino
Flutuando ao sabor de súbitas correntes
Frias e quentes, substância estranha e íntima
De teor irreal e tato transparente.

Depois teu seio é a infância, duna mansa
Cheia de alísios, marco espectral do istmo
Onde, a nudez vestida só de lua branca
Eu ia mergulhar minha face já triste.

Nele soterro a mão como a cravei criança
Noutro seio de que me lembro, também pleno...
Mas não sei... o ímpeto deste é doido e espanta
O outro me dava vida, este me mete medo.

Toco uma a uma as doces glândulas em feixes
Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos
Na massa cintilante e convulsa de peixes
Retiradas ao mar nas grandes redes pensas.

E ponho-me a cismar... — mulher, como te expandes!
Que imensa és tu! maior que o mar, maior que a infância!
De coordenadas tais e horizontes tão grandes
Que assim imersa em amor és uma Atlântida!

Vem-me a vontade de matar em ti toda a poesia
Tenho-te em garra; olhas-me apenas; e ouço
No tato acelerar-se-me o sangue, na arritmia
Que faz meu corpo vil querer teu corpo moço.

E te amo, e te amo, e te amo, e te amo
Como o bicho feroz ama, a morder, a fêmea
Como o mar ao penhasco onde se atira insano
E onde a bramir se aplaca e a que retorna sempre.

Tenho-te e dou-me a ti válido e indissolúvel
Buscando a cada vez, entre tudo o que enerva
O imo do teu ser, o vórtice absoluto
Onde possa colher a grande flor da treva.

Amo-te os longos pés, ainda infantis e lentos
Na tua criação; amo-te as hastes tenras
Que sobem em suaves espirais adolescentes
E infinitas, de toque exato e frêmito.

Amo-te os braços juvenis que abraçam
Confiantes meu criminoso desvario
E as desveladas mãos, as mãos multiplicantes
Que em cardume acompanham o meu nadar sombrio.

Amo-te o colo pleno, onda de pluma e âmbar
Onda lenta e sozinha onde se exaure o mar
E onde é bom mergulhar até romper-me o sangue
E me afogar de amor e chorar e chorar.

Amo-te os grandes olhos sobre-humanos
Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem
Na ânsia de descobrir, nos mais fundos arcanos
Sob o oceano, oceanos; e além, a minha imagem.

Por isso — isso e ainda mais que a poesia não ousa
Quando depois de muito mar, de muito amor
Emergindo de ti, ah, que silêncio pousa...
Ah, que tristeza cai sobre o mergulhador!

Vinicius de Moraes

( este poema de Vinicíus é sem duvida um hino ao amor absoluto )

PREDADOR

Voraz predador da minha alma,
foi este meu coração demente,
que sequer sabe ele o que sente,
porém sente tudo o que sabe.

São Vicente
24/12/2005
Ricardo Rossi
( estava bebado )

Distância

Eu quero os teus sonhos,
com o desejo do meu dia.
Escuto tua voz,
como uma melodia.
E fiz do meu amar,
uma fé sem razão.
Te entreguei minha alma,
te doei meu coração.
Já não tinha na vida,
outra vontade ou razão.
Segui em meus dias,
somente esta emoção.
Te escrevo agora,
esta rima que chora,
te entreguei minha alma ...meu coração
e você está distante !

São Vicente
01/07/06 – 19:55h
(Brasil perdeu para França)
Ricardo Rossi

AUSÊNCIA

Tua ausência,minha amada,
tua falta, amiga minha,
é tudo que me faz um nada,
é a dor que me castiga.
E não há horizonte que me agrade,
e não há estrela que me apazigúe.
Não vieram os sonhos perfeitos
só a dor em mim doía.
Tua ausência, amiga,
tua falta, amada,
me faz triste e a vida um nada.
Tua falta, ausente amiga
tua ausência, faltante amada,
é um tempo que em mim não devia.

São Paulo
04/06/06 – 14:20h
Ricardo Rossi

ceu sem estrelas ( Ricardo Rossi )

não conto mais estrelas,
não sei se um dia contei estrelas,
no entanto as vejo,
ou penso que vejo estrelas.

mas meu horizonte esta curto,
pouco vejo do céu...
o céu é grande,
não vi as estrelas.

hoje não vi estrelas,
nem contei estrelas,
mas elas estão lá ...creio que sim...
e eu estou aqui dentro de mim.

a noite não me acalma,
meu coração esta aflito,
sou homem de fé pequena,
por isto estou aqui.

por existir padeço,
desejo amor,
que me amem, desejo
e desejo amar, mas...

tenho pena de mim,
pena da minha fé miúda como grão de areia.
tenho tristeza em pensar nas estrelas... que se perdem no horizonte.
a noite ainda e pequena,
mas... talvez, eu sonhe com as estrelas
talvez as conte,ou não...
não importa quantas estrelas,
bastam existirem e é só!

(um dia que não me lembro, contei estrelas.)

São Paulo 14/ 09/ 2009 21:06h
Ricardo Rossi

Boneco de pano ( Ricardo Rossi )

Escrevi as palavras que saltaram das pontas dos meus dedos,
não pensei em nada , quando pensamos estragamos o que
só deve se saltar das pontas dos dedos.
Assim eu não tenho responsabilidade pelo que
escreveram as pontas dos meus dedos.
Não tenho responsabilidade sobre mim ,
pois não tenho o controle das pontas dos meus dedos.
Sou o espectador do meu teatro, sou o cenário de mim mesmo,
sou eu quem me interpreta neste espetáculo,
sou o boneco de pano que pelo sopro divino se fez vivo,
e a vida me refaz todos os dias, a cada dia...
mas cordas que me dão movimento ... estão paradas!

São Paulo 14/09/2009 21:14h

Ricardo Rossi

triangulo ( Ricardo Rossi )

Eu que te amo,
tu que me amas,
a lua que nos ama.
somos um só neste instante!

lua errante, você distante, eu ausente...
te perdi na vida,
na vida te ganhei,
eras a pureza...

prazer que guardei,
tu me sabias,
a lua te dizia...
aguarde que não tarda!

ele vem pelo caminho!
te traz na mão uma flor!
no peito um punhado de carinho!
e abandona na partida,

uma cama desarrumada,
uma caneta esquecida.
lua testemunha muda,
tudo viu, nada disse.

Agora que já não posso, te dedicar palavras!
recebes o beijo que não dei...
iluminada pela lua cheia e azul da madrugada!
Com o amor que te dediquei.

Os nomes não importam ( Ricardo Rossi )

Fomos apenas o meu sonho,
E a noite acordou na manhã,
Ficaste pregada no meu sonho.
E no despertar da manhã... partiste.

Fiquei a contemplar o sol da manhã,
O tempo passou sobre meu vivo-ser-decadente,
E meus sonhos, sonhos de amor...
Perderan-se em meu destino de homem,

Não quero sonhar, não amo o que no sonho se cria,
Manhãs quentes e frias meus sonhos matam!
Morro eu todos os dias, em cada manhã que desperto,
Morre mais meu coração que endurece em pedra.

Viva pedra que pulsa, que leva pelas veias,
Fluido vivo que meu ser anima.
E meu coração de viva pedra aquece meu olhar.
Meu olhar se perdeu no horizonte desta manhã!

Meu ser de poeta – suicida se mata em palavras.
Mas recria no amor que busco onde não posso,
O brilho que não mereço, no entanto desejo.
Teu nome não me veio pelo vento.



Nem flores colho em minha alma,
Partiste de mim antes da chegada,
Eu partiste de ti antes da despedida,
Partimos antes do encontro!

Não temos nomes, somos nada em nós mesmos.
Existimos diante da vida, realidade, eu não sei?
Meu tempo realiza o presente... estou no mundo!
Vivendo diante de mim mesmo!

E meu olhar já se perdeu , distante ficou de mim.
Não quero sonhos nem palavras de amor,
O brilho de olhos do que fui menino... já morreu!

(Iniciado em lugar que não sei e terminado em são Caetano do sul em 03/01/10 as 13:55
E que fique sem titulo , pois os nomes não importam.)
Ricardo Rossi

Amigos ( Ricardo Rossi )

Guardo em lugar que não conheço,
As lembranças que na saudade existem.
Meus amigos estão em pedestal de mármore branco,
Perfeitos na lembrança perdidos na memória.

Se hoje os vejo, não mais conheço.
São seres estranho a minha alma,
Passam por ruas que desconheço,
Passam pelas vidas alheia a minha historia.

Mantenho o pedestal de mármore branco,
Onde intactos ficarão, no passado perdido.
de saudades envoltos , ficam em mim,
um pedaço da minha vida, em um tempo que vivi .

Conto as ondas do mar, conto estrelas e as horas,
E os passos dados rumo ao futuro... não conto mais amigos.
Guardo no mármore branco da memória,
Os amigos... deixados, no pedestal da minha historia.

Puerto cabello  Venezuela 28/06/09]

Ricardo Rossi

Para uma menina como um mar ( Ricardo Rossi )

Menina de olhar profundo como um mar,
Ondas tranqüilas tua água espelha.
Teu olhar vago, de mim perdido,
Velha ilha de branca praia que tuas ondas alisam.

Mar de naufrágios súbtos e tesouros escondidos.
Velha ilha nas tuas águas afoga-se em sonhos.
Em sonhos se recria como ilha nova...
Teu mar não se agita, nem ondas crescem.

Passam ao largo os navios sem porto.
E teu mar em azul, desconhecem segredos.
Passam ao largo o abismo do tempo.

Teu olhar profundo... tuas águas serenas,
Teu tesouro escondido... tuas águas transparentes.
Cercam de pouca alegria, a ilha que o mar esquece.

Ricardo Rossi
Morón Venezuela 14 /07 /2009




PARA UNA MUCHACHA COMO UN MAR...

Muchacha de mirada profunda como un mar,
Ondas tranquilas tu agua refleja,
Tu mirada lejana, en mi se pierde,
Antigua isla de playa blanca que tus ondas alisan.

Mar de súbitos naufragios y tesoros escondidos,
Antigua isla en tus aguas se ahogan sueños,
En sueños se recrea como isla nueva…
Tu mar no se agita, ni ondas crecen.

Pasan a lo lejos los navíos sin puerto.
Y tu mar en azul, desconocen secretos.
Pasan a lo lejos el abismo del tiempo.

Tu mirada profunda… tus aguas serenas,
Tu tesoro escondido… tus aguas transparentes.
Cercan de poca alegría, la isla que el mar olvida.


Ricardo Rossi
Morón Venezuela 14 /07 /2009

Despedida ( Ricardo Rossi )

Meu legado de dor e saudade
Flutuam em mim agora.
Vieram os trovões das tempestades,
E anjos negros iluminaram a minha noite.


Teu ser, arcanjo da madrugada, meu sonho espanta.
Te busquei pela vida,
Te encontrei em meio da minha agonia,
E ora te dedico minha poesia com sabor de morte.


Foste a flor adormecida, que em meu jardim
Abandonado, se criou mulher.
E já de muito colhida por mãos desconhecida,
Em meu peito um dia repousou tua face amorosa.


Serás eterna amada, em meu amor que te guardo,
Como a fé de quem da vida tudo perdeu.
Partiras de mim , sem o olhar melancólico da despedida,
Partirei de ti , sem a lembrança do derradeiro beijo teu.


Tu caminharas ao futuro que desconheço,
Segurei a estrada que leva ao futuro meu.
Serás a mulher que guardarei na lembrança,
Fotografada, como quem sacia a sede.

Ricardo Rossi