terça-feira, 27 de julho de 2010

FIM DE JOGO

Só os bêbados nos copos
qual anjos barrocos
de uma catedral morta.
São os copos e os corpos
nos corpos de copos
nas trincas vazando o sangue
qual elefante do circo
que não veio
e o tempo desgasta
toda a matéria que
cobre o corpo da sereia
na noite de tempestade.
Só a metade do tomate
é que conhece a metade
do tomate, nunca o tomate todo
a queimar minha alma na lembrança
viva da infância
um pai de mão dada à mãe de
mão na mão paterna.
Chovia na tarde ensolarada
e pétalas de margaridas teclavam
um piano insonoro da idéia de
um menino que passou pelo tempo
todo menino que dantes fosse um
homem que via no balcão
fosco e dentro os copos com
corpos bêbados mergulhados nos
copos bêbados.

II
Não ouvia a sua voz no telefone.
Cantava músicas qual um tambor
repentino, da orquestra que aguardava
a batuta espantada do morto maestro
que regia a fúnebre sinfonia do
motor aceso para o lampejo do
vagalume que passou a gloria das
estrelas da constelação sem nome
nem sobrenome e de um céu sem
morada a arrastar no tempo um
súbito silvo de guarda que orquestrava
a avenida qual dança clássica
selvagem do homem que colhia
as melancias da vida e um outro
que passava para amolar facas cegas
sem bengalas e cão de guia na
serenata eterna que só Deus regia.

III
Da rua veio o grito que entrou no
banheiro e não viu o chuveiro que
quente todo chovia dentro para a inversa
nascente do ralo que bebia o líquido
espumoso e perfumado que corria
na tempestade da vida que chegava
pelo jornal nunca lido e passava
pelo vento qual viva folha escrita
pássaro letreiro que levou todas
as formigas a roeram o velho
armário onde avô e avó guardavam
seu dinheiro de sonho que enrugado
ficou na teia empoeirada do tempo
dormido em uma clara madrugada
sem estrelas pedintes que mendigavam
um olhar apaixonado do cão cego
que seguia o rastro de um homem
abandonado no silêncio do
hospital onde freirinhas cantavam
uma música de Natal para o presente
que pedi só na metade e nada
recebi porque não veio velho vermelho
no sino que relampejava em um bornal
do caçador maldito que matara o último dragão
sem dar conta do placar
que indicava o fim do jogo.

São Vicente
18/07/05
Ricardo Rossi

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